Albertina Bertha - Romance e erotismo na Literatura Brasileira dos anos 20

Escritora brasileira, carioca, nasceu em 1880 e publicou seu primeiro livro em 1916. A literatura de Albertina impressionou pelo teor erótico, traições, escancarando as hipocrisias de sua época, com protagonistas sensuais, suas metáforas sensoriais e trama falando sobre o adultério. 

Albertina Bertha  foi uma escritora brasileira, carioca, que nasceu em 1880 e publicou seu primeiro livro, Exaltação, em 1916. Escreveu outros quatro livros após Exaltação, dois deles ensaios filosóficos.   

Integrante da elite intelectual carioca, foi colaboradora de jornais como O Jornal, Jornal do Comércio, O País, O Malho e A Noite, e da revista literária feminina Panóplia. 

Reconhecida em seu momento histórico, foi exaltada pelo crítica em livros que misturavam o realismo e uma escrita mais social a um aspecto mais introspectivo. Seus livros debatiam questões morais, direitos humanos, o lugar da mulher na sociedade, as diferentes etnias brasileiras, além de questões de ordem política.  

Exaltação (191), romance de estreia, é bastante ousado pelo teor erótico e pela protagonista Ladice que reconhece a hipocrisia da sociedade e sente-se em desacordo com os preceitos desta e quer ser livre, agir de maneira fiel às suas vontades, superando o amor romântico.  

Os personagens, Teófilo e Ladice, vivem a exaltação do amor que sentem um pelo outro, através de encontros às escondidas, na casa do próprio poeta, e de cartas trocadas quando a distância os separava. Ladice não resiste ao chamado de seu amor, subvertendo, assim, a ordem imposta para o matrimônio, até mesmo porque não podia optar pelo divórcio, e consumando o adultério:  

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“Uma pequena indecisão, e Ladice batia, ligeiramente, misteriosamente, quando a porta se abriu de par em par e Teófilo pálido, fremente, a enfrentou. […] ambos impelidos pela paixão foram um para o outro, abraçaram-se longamente, perdidamente, silenciosamente, como os elementos, as coisas materiais, as montanhas, os rochedos caem uns sobre os outros, a se desfazerem, misturados, rolando, fundidos, confusos, inalienáveis, perdendo a feição primitiva, assumindo uma nova, fazendo-se um só! Ladice rendia -se à violência dessa efusão.” 

Exaltação (p. 201) 

Clássicos  capa-sobre-albertina Albertina Bertha - Romance e erotismo na Literatura Brasileira dos anos 20

O livro teve seis edições e, até 1926, tinha vendido 25.000 exemplares (segundo um anúncio no jornal). E o romance já tinha sido publicado antes, em formato de folhetim, no Jornal do Comércio, sob indicação do escritor Araripe Júnior, que era tido como um padrinho da Albertina.   

O escritor Lima Barreto, em artigo publicado na Gazeta de Notícias, de 26 de outubro de 1920, fez uma crítica ambígua  em que destacava que Albertina era inteligente e culta apesar de mulher. Monteiro Lobato também publica uma pequena crítica dela. Encontramos estudos sobre a autora, também, no livro de Lima Barreto, Impressões de leitura (livro de críticas), na obra Escritoras brasileiras do século XIX, organizado por Zahidé Muzart, assim como menções sobre a autora em alguns dicionários de literatura.   

Em Retratos de família, Francisco de Assis Barbosa realiza uma entrevista com Albertina Bertha, em que ela fala sobre a vida de seu pai, o Conselheiro Lafayette. Através desse depoimento, temos acesso à voz de Albertina, que nos narra momentos de sua vida em família e nos permite uma maior aproximação.

Curiosidades

Albertina Bertha foi uma escritora carioca que agitou o cenário cultural brasileiro do final do século XIX e início do século XX (1880 – 1953).  

1- Escrevia sobre literatura em jornais como O Jornal, Jornal do Comércio, O País, O Malho e A Noite, e da revista literária feminina Panóplia.    

2 – Como lia francês e alemão, tinha acesso a teoria da literatura, conhecimento que no Brasil ainda era incipiente  

  3- tanto o pai de Albertina, Conselheiro Lafayette, quanto o marido incentivavam que Albertina escrevesse.  

4- A sua escrita é, antes de tudo, ousada, na sua forma e no seu conteúdo..  

 […] ambos impelidos pela paixão foram um para o outro, abraçaram-se longamente, perdidamente, silenciosamente, (…) misturados, rolando, fundidos, confusos, inalienáveis, perdendo a feição primitiva, assumindo uma nova, fazendo-se um só! (…) (Trecho de Exaltação, 1916)  

  5- O teor erótico e libertário presente nas suas obras ficcionais chamou a atenção de Lima Barreto, Monteiro Lobato   

6- Ao mesmo tempo, Anna Ribeiro de Góes Bittencourt, voz de uma liga de mulheres católicas, fala muito mal do romance. Diz que é preciso queimá-lo, que é imoral, “não deixem suas filhas lerem” etc. Porque tem adultério, a entrega da mulher ao prazer.   

7- Seu primeiro livro, Exaltação (1916), teve seis edições e, até 1926, tinha vendido 25.000 exemplares   

8- [Em 1918], o Jornal do Comércio realizou um ciclo de conferência com 13 autores, e ela era a única mulher naquele universo masculino de conferencistas.   

9- Foi convocada para entrevistas e conferências ao longo de sua vida — uma delas, inclusive, sobre Nietzsche, na qual falou para uma plateia numerosa  

  10- Em suas colunas, falava do voto feminino, do divórcio e da guerra   

(Clique na imagem para saber mais)

 A pesquisadora Anna Faedrich, que recuperou o livro “Exaltação” em nova edição comentada em um projeto de  resgate de escritoras que se perderam na memória da literatura brasileira, com apoio da Biblioteca Nacional destaca a sua visão feminista. Defendeu o voto feminino e a criação de uma Academia Feminina de Letras, além de criticar a hegemonia masculina nos meios literários. Escreveu também sobre religião, política, filosofia, psicologia e história. Há uma citação de Albertina, de acordo com, em que a autora fala sobre sua condição da mulher:

“Creio não possuir qualidade alguma que me recomende como futura mãe de família... Adoro a paz, a solidão, as coisas estranhas... Sou extremamente independente. Gastarei dias a ler, estudar... Rio-me muito, digo tolices; mas também tenho melancolias impenetráveis, que me roem as próprias fontes de existência; é-me um mal ingênito.”