O canto dos inconquistáveis: a poeta Graciela Huinao

O depoimento de Graciela Huinao sobre sua trajetória e envolvimento com a literatura, o que significa a poesia e a condição de mulher indígena na América Latina é emocionante e pungente. Primeira poeta Mapuche a ingressar na Academia de Línguas do Chile, contadora de histórias, Graciela nos encanta e desperta para o silenciamento dos povos originários, resistindo inconquistáveis através de seu canto e memória numa América Latina onde a literatura é cada vez mais restringida a uma pequena elite.

Poeta, Mapuche e Williche, Graciela Huinao Alarcón nasceu em Rahue, localizada a 36 quilômetros de Osorno, na comunidade de Walinto – que usa como o título do primeiro livro. O relacionamento com a escrita nasceu muito jovem. Sua mãe morreu quando ela tinha 13 anos e o pai trabalhou em uma fábrica por boa parte do dia. Graciela, passando muito tempo sozinha, começou a escrever. 

Na adolescência, deixou a casa “como toda mapuche forçada a emigrar “. Mudou-se para Santiago, capital do Chile, para terminar o ensino médio e lá se estabeleceu após a morte de seu pai. Trabalhou como doméstica, em um supermercado e em uma padaria, até conseguir economizar dinheiro suficiente para publicar seus versos e histórias. 

Embora tenha ouvido o pai e a avó falarem em Mapudungun desde criança, o medo de que ela fosse discriminada fez com que nunca lhe o ensinassem. Quando começou a escrever, sentiu a necessidade de sua poesia estar em sua língua ancestral. Graciela prometeu a si mesma que, se alguma vez publicasse um livro, seria necessariamente em sua língua materna. Depois, procurou Clara Antinao, professora e lingüista, para fazer a tradução de seus poemas para o Mapudungun. 

Em versos curtos e concisos, “La Loika” foi o primeiro poema publicado por Huinao em 1989. Uma obra que se refere às suas raízes, sua história aprendida entre os lares de sua infância e juventude, e também foi publicada em Estados Unidos em 1994.  

Em 2001, como poeta, publica “Walinto“, seu primeiro livro, um livro bilíngue de poesia Mapudungun-Espanhol que, por seu sucesso, teve uma reedição trilíngue que incorporou a tradução em inglês. 

Foi assim que Huinao se tornou a primeira mulher mapuche que publicou livros de poesia, histórias e foi traduzida para o inglês. Graciela Huinao, em 27 de março de 2014, é a primeira mulher mapuche da Academia de Línguas do Chile graças ao seu mérito como poeta, graças ao fato de que “como um pássaro meus versos começaram a voar. 

Fonte: Site MUJERES BACANAS

MUJERES QUE DEJAN HUELLA

"Mi huella es contar la historia del pueblo mapuche a través de mi literatura"

Los gansos dicen adiós 

                                          A mi abuelo Adolfo Huinao 

En los ojos de mi abuelo Williche 
navegaba el miedo. 
Tan solo al morir 
apagó ese brillo tímido. 
Lo que la naturaleza no pudo 
apagar en mi memoria 
el color de archipiélago 
agarrado en su rostro. 
Abuelo, para serte fiel 
no recuerdo el día exacto. 
Solo veo a los gansos 
abriendo y cerrando 
sus alas por la pampa. 
Mi corto andar abuelo 
no entendió 
el origen de tus palabras. 
Anciano como eras 
me alzaste del suelo 
y de tu boca nació la muerte 
desembarcando en tu playa. 
Tu padre y tu hermano 
remaron al sacrificio. 
Mientras su madre y mi abuelo 
alcanzaron la orilla del hambre. 
No hubo eco en la montaña 
fueron tan calladas tus palabras. 
Pero mi niñez asustada 
se acurrucó al alero de tus años. 
Abracé la pena de tus ojos 
y juntos miramos la pampa: 
una isla con sus gansos 
en los ojos de mi abuelo se quedó 
en la última mirada. 
Abuelo, hoy sé 
nunca fuiste Williche 
tu origen Chono o Kawaskar 
no subió al bote 
el día que robaron tu tierra 
y tu raíz. 
Ahora entiendo 
la pena de tus ojos. 
De tu origen navegando 
en el gran cementerio 
del Pacífico Sur. 

Amulelafin tañi laku, Adolfo Huinao 

Tañi williche laku ge mew  
kentxayküley llükan.  
Lalu wüla chogümnagümi feychi llükan aychüf.  
Chemkün pepi  
chogümnolu tami konümpawe mew,  
lafken tañi pu wapi afünka  
nüwkülelu ñi age mew.  
Laku kollatunoaeyew  
konümpalan chi txoy antü.  
Kanzu müten penefin  
gülamekel ka txapümekel  
ñi pu müpü lelfün püle.  
Tañi püchü tuwülün txekan, laku  
kimtukulay  
chew llegün tami pu nemül.  
Füchalewewyekelu ta eymi  
witxampüramen mapu mew  
fey tami wün mew llegüy ta lan  
anümüwpulu tami ina lafken mew.  
Tami chaw ka tami peñi  
kawenigü az kutxankawün püle petu tañi ñuke ka iñche tañi laku  
zipufigü chi inafül güñun.  
Gelay kemzulla mawüzantü mew ga,  
ñüküf nagümmageymi tami nemül.  
Welu iñche tañi llükalechi püchü mogen  
famtukuluwpuy tañi pu txipantüñi chelkon mew.  
Mafülüfin tami pu ge ñi weñag  
fey txaftu azkintufiyu lelfün:  
kiñe wapi tañi pu kanzu egü  
tañi laku ñi ge mew mülewey  
inan leliwülün mew.  
Laku, fachantü kimtun  
chumkawnorume williche gekelaymi;  
tami chono küpankam kawaskar  
püralay tagi mew  
feychi antü weñeymagepalu tami mapu ka tami folil.  
Tüfa wüla ke kimtukufin  
tami pu ge ñi weñag.  
Tami rüpalwe kentxaykülelu  
chi Pacífico Sur ñi  
fütxa eltun mew.

"Orgullosa de mis origenes que fueron plantados en una comunidad indígena que queda al sur de la provincia llamada Walinto (lugar de patos), además título de mi primer libro. En 1989 publiqué mi primer poema "La loika" Y como un pájaro volaron mis versos en diarios, revistas y antologías nacionales. El año 2001 publiqué mi primer libro Walinto,bilingüe mapudungun-español. En el 2003 La nieta del brujo, seis relatos williche, en el 2006 coedité la antología Hilando en la memoria, 7 poetas mapuche y el 2008 republiqué Walinto trilingüe."