Poema de Maria Firmina dos Reis
Nascida em São Luís, no Maranhão, Maria Firmina foi pioneira ao escrever o primeiro romance abolicionista do país e ser a primeira mulher negra a publicar um livro, ‘Úrsula’, em 1859. Ela também escreveu poemas e contribuiu em diversos jornais de sua época. Após aposentar-se, em 1880, a escritora criou uma escola gratuita e mista.
O proscrito
Vou deixar meus pátrios lares,
Alheio clima habitar.
Ver outros céus, outros mares,
Noutros campos divagar;
Outras brisas, outros ares,
Longe do meu respirar…
Vou deixar-te, oh! Pátria minha,
Vou longe de ti – viver…
Oh! Essa ideia mesquinha,
Faz meu dorido sofrer;
Pálida, aflita rolinha
De mágoas a estremecer.
Deixar-te, pátria querida.
É deixar de respirar!
Pálida sombra, sentida
Serei – espectro a vagar:
Sem tino, sem ar, sem vida
Por esta terra além – mar.
Quem há de ouvir-me os gemidos
Que arranca profunda dor?
Quem há de meus ais transidos
De virulento amargor,
Escutar – tristes, sentidos,
Com mágoa, com dissabor?
Ninguém. Um rosto a sorrir-me
Não hei de aí encontrar!…
Quando a saudade afligir-me
Ninguém irá me consolar;
Quando a existência fugir-me,
Quem há de me prantear?
Quando sozinho estiver
Aí à noite a cismar
De minha terra, sequer
Não há de brisa passar,
Que agite todo o meu ser,
Com seu macio ondular…
(Cantos à beira-mar e Gupeva. 1a Edição atualizada 2017, p. 104, 105)