Entrevista exclusiva com Jorge Barbosa Filho
Confiram nosso bate-papo com o poeta Jorge Barbosa Filho, também conhecido como Jorge do Irajá. Carioca, Jorge circulou do sul ao norte do país com sua poesia e lançou em 2019 o livro Transcendência Zero pela Kotter Editorial. O assunto não poderia ser outro senão poesia, andança e batalha.
Omofobia
OMO ludens
OMO sapiens
OMO fabers
OMO eretus
OMO habilis
OMO sexualis
dá o branco
que sua família merece
Todas as visões e leituras são bem vindas, mesmo que recriminem o poeta e seus poemas. A Arte e a Poesia também se prestam e servem pra isto também. Que venha “a contribuição milionária de todos os erros”!
(Jorge Barbosa Filho)
Nascido no Rio de Janeiro em 23 de maio de 1960, viveu no bairro do Irajá até 1984.
Publica primeiro livro de poemas “Poesia ou Crime Quase Perfeito”, no Rio, aos 18 anos. Publica também “Mais” em São Paulo” em 1985 e, em Florianópolis, “Mequetrefes” em 1990.
Todos encontram-se em lugares incertos e não sabidos, pois foram perdidos e/ou roubados.
Em Curitiba, trabalhou como Produtor e Angariador de Apoios Culturais para a Rádio Educativa do Paraná, 1997/1999 e escreveu na Revista Ideias com a coluna literária “Diversos” nos anos de 2007/08. Formou-se em Licenciatura/Português em 2003. Lecionou em diversos colégios de Curitiba e Região Metropolitana, além de ministrar, palestras e Oficinas de Criação e Sensibilização Poética para as Secretarias de Educação e Cultura, Biblioteca Pública do Paraná, Colégios Particulares e no SESC-PR, na capital e no interior. Contribuiu na implantação do circuito de recitais em Curitiba. Nesta cidade, lançou “Buquês de Alfafas” pela Editora Kafka Edições Baratas em 2005 e “Ópera 44”, Ed. Do Autor, com o artista plástico Paulo Pisano em 2006.
Mora atualmente na Parnaíba cantando blues e sambas na varanda em finais de semana. Trabalha como Captador de Eventos e realiza Oficinas de Criação e Sensibilização Poética, Oficinais para Professores de Educação e outros, além de recitais performáticos.
Poesia serve pra quê exatamente.
Inicialmente, gostaria de dizer que é um prazer imenso participar da qualidade editorial que esta Revista proporciona a seus leitores em todo o Mundo. Além disto, acredito que esta Revista será uma das principais referências mundial em Artes e Literatura. Sinto-me lisonjeado. Agradeço aos editores pela oportunidade e lembrança.
Bem… a poesia não serve “exatamente” para algo! Ela é uma tentativa de perfeição na inexatidão dos seres humanos. Uma harmonização de atitudes, fatos, palavras e propostas díspares existentes ou vindouras. A poesia “serve” para tudo inexatamente e não é escrava de apenas uma visão, leitura, interpretação, discurso, momento cultural ou político… a poesia “É”… e nunca será “ESTAR” (ou star) pousada em única afirmação. Isto se dá devido ao CRONOTOPO (o tempo e o lugar) dos diversos repertórios históricos produzidos no eterno desenrolar dos fazeres e sentidos da história Humanidade e depende dos REPERTÓRIOS utilizados, tanto pelo poeta e tanto pelo seu leitor, num determinado momento ou instante onde os fatos, as coisas os sentimentos, atos, onde ambos (escritor e leitor), agregam o maior número de significação possíveis: Um beijo; um coveiro cavando uma cova; um pedreiro erguendo um muro; um tiro. A poesia ocorre em qualquer atividade humana onde se “transporte” sentidos nas atividades do dia a dia e nas artes.
Com o poema, é uma outra história… dado nosso estágio de evolução tecnológica, de informação, velocidade de fatos, leituras de várias mídias, conhecimento histórico poético e paradoxalmente… a ignorância extrema de maioria da população mundial, sobre o mundo em que vive, sobre Literatura e principalmente, Poetas, Poemas, Arte e Poesia, eu afirmo: A POESIA É A FORMULA 1 DA LINGUAGEM! A leitura de poemas é para poucos… é para quem tem o “espírito” de engenheiros, arquitetos, historiadores, psicólogos, mecânicos, psiquiatras, mestre-de-obras, criadores, legistas, inventivos… e principalmente leitores contínuos de poemas e poesia. Não adianta ser uma pessoa que frequente um autódromo num dia de corrida, torcer e tentar entender um carro e uma corrida, só por que é chique frequentar, aplaudir e vibrar, dando “tapinhas” nas costas dos poetas…. a população ou leitores têm que se educar para entender a vida … e a poesia em sua simplicidade complexa! Pergunte a qualquer pessoa (doutore(a)s ou à uma pessoa comum): QUANTOS VERSOS VOCÊ LEU HOJE? QUANTAS ESTROFES VOCÊ LEU ESTA SEMANA? QUANTOS POEMAS VOCÊ LEU ESTE MÊS? QUANTOS LIVROS DE POESIA VOCÊ LEU ESTE ANO? Concordando com Confúcio, a poesia e o poema deveriam ser ensinados desde a infância (em casa e na escola) para a formação do ser humano! Portanto, a poesia, hoje, é para esforçados, e o poema é para poucos, muito poucos! Mas nosso trabalho, enquanto poetas, escritores e educadores, é mudar radicalmente esta situação.
A sua trajetória como poeta envolve tanto a sala de aula como professor quanto o contato com o público na venda direta, na rua. O público gosta de poesia? Fale das suas invenções e dificuldades para fazer o verso valer a pena, ou melhor, o almoço.
Olha…. eu já nasci meio estranho, pois quando cheguei ao quarto da maternidade onde minha mãe se encontrava, levado pela enfermeira do hospital, minha mãe me olhou e falou: ”pode levar de volta que este filho não é meu, ele é muito feio” huashuashuas! Bem… aí começa a minha cruzada nômade de quarto em quarto, de casa em casa, de cidade em cidade, de estado a estado (geográfico e de espírito) contra os “bebês jonshons” e o “bom mocismo”. Esta eterna estranheza de procurar o seu lugar (ou não lugar) no mundo. Não me adaptava, em minha família, às salas de aula, seja como aluno ou professor. Este eterno mudar de “estados” me ensinou a pensar-me, conhecer vários hábitos e culturas (e aonde me encontro neles), além de conhecer-me de maneira profunda, mas ainda não inteiramente… e principalmente à refletir, graças a vida, rsrsrsrsr…
Nas sala de aula, enquanto aluno, eu era vago, desconcentrado, alheio, as aulas (que eram chatas pra cacete), pois elas não falavam ou não ligavam as matérias ensinadas à vida… A maioria dos professores eram palhaços tristes, sem graça, sem humor, sem nada que pudessem reter minha atenção… então eu inventava minhas brincadeiras… uma delas era escrever, além de desenhar coisas que não existiam ou queria que existissem. Gostava de amigos diferentes, estranhos, mal comportados, meninas obscenas (no sentido de “fora de cena”) para a época, que mostravam os joelhos, a língua, e as mais ousadas, as parte mais íntimas, estes tesouros proibidos do corpo e do verbo… Gostava de professores e professoras sensuais (que preenchem todos os nossos sentidos) e ainda gosto. Gosto de pessoas que têm um visão incomum de vida e de mundo! Pessoas que refletem com bom ou mal humor! Enquanto professor, eu tinha mais simpatia com a turma do “Poleiro (do fundão da sala)” de que com o pessoal do “Gargarejo” que sempre sentavam na primeira fila. Ou seja, admirava mais os alunos e alunas que não se encaixavam em salas de aula do que os que sofriam de “normose”, que eram obedientes com seus protos-cacoetes de classe média, rsrsrsrs… mas ainda tinham “salvação”… rsrsrsrs! Não ficava na “Sala dos Professores” ouvindo-os falar mal dos alunos para justificar suas mediocridades e parvoejar sobre shoppings center, supermercados, bancos, delegacias, hospitais e viagens para Bariloche… em sua grande maioria…
Quando na universidade, enquanto aluno na Universidade Federal do Paraná, dei a sorte de contar com alguns professores excepcionais que me entusiasmaram e ajudaram-me sistematizar o meu interesse caótico em várias áreas necessárias ao meu desenvolvimento enquanto gente e meu interesse na Literatura e Poesia, além de amigos poetas, músicos, artistas plásticos fora do comum. Minha vivência em Curitiba, foi fundamental para organizar minha visão de mundo, além das mulheres fantásticas que conviveram comigo e conseguiram me suportar magnificamente…
Minha experiência com venda de livros de poemas começou vendendo poemas de um bom e atípico poeta do subúrbio do Rio de Janeiro quando tinha apenas 16 anos em porta de shows, teatros e bares. Aprendi com ele que a empatia, a incorporação da poesia que se faz e a performance eram elementos fundamentais para a venda de livros de poemas. A performance é fundamental para a venda de poemas. Você tem que crer e ser o poema que você faz. O público, em geral, não gosta de poemas e poetas… eles causam, reflexão, incômodo, culpa, e pensar dói… o poeta e o poema fazem as pessoas se colocarem no lugar do “outro” e ninguém quer ver ou pensar no outro… querem pensar em suas eternas vidas de escravos felizes, convenientes, coniventes com esta merda toda que está por aí que consciente ou inconscientemente eles causam.
Quanto a invenção de versos e poemas, os temas na vida já nos são dados, cabe aos poetas lerem, estudarem suas línguas, culturas, histórias, e ter a consciência do inusitado, do inesperado… por isto, O IMPOSSÍVEL É O MEU MELHOR AMIGO! Falar o que já está falado, escrever o que já foi escrito, querer ser “artista” como um pudim de festa, ou o palhaço dos reis, é a morte do poeta, é a morte da arte! A grande arte, leva as pessoas a se conhecerem, a pensar no mundo, a libertar os escravos da tirania das classes dominantes e do sistema econômico…
Você praticamente cruzou o Brasil do Sul ao Nordeste, passando pelo Paraná, Rio e agora Paraíba. Que experiências você destacaria nestes contatos com poetas e consumidores de versos?
Sim… foi fundamental conviver com outras culturas, outros significados, visões de mundo, climas, sotaques e entonações das mesmas coisas. As surpresas são vastas, inesperadas e inusitadas… elemento fundamental das artes e poesia. O susto, o espanto! Viajar faz bem, tanto fisicamente como dentro dos livros… É fundamental conhecermos outras posturas, pois assim passamos a respeitar as diferenças, o desconhecido e o outro que não somos.
A melhor coisa do mundo é conviver com poetas (realmente POETAS) em sua intimidade, seu região, seu habitat, seu dia a dia e sua poesia. Você passa a entender profundamente a história de uma cultura, de um hábito, de uma expressão, seja ela facial, gestual ou verbal… note que quando lemos os Clássico Gregos e Latinos ( ou de qualquer outra civilização) temos que ter referências histórica de determinados hábitos, rotinas, rituais, crenças, etc. Conviver com poetas pode parecer difícil, mas é salutar, faz bem à saúde, à imaginação e ao humor. Dignifica nossa existência e a do outro, dignifica nossas visões de mundo, seus enlaces e nossos diferentes amores.
Veja… geralmente são poetas os leitores mais frequentes de versos, poemas e livros de poesia. O que chamamos de leitores comuns, talvez sejam professores, alunos pessoas que já tentaram o universo das artes, mas não tiveram a coragem de enfrentar a barra de fazer arte num país como o Brasil. Existem pessoa com níveis elaborados de leitura, sensibilidade, mesmo sendo analfabetas, os “sábios analfabetos” que expressam seus poemas na oralidade e em suas práticas de vida e nos dão sentidos inusitados, traduzindo o impossível de uma forma simples. Costumo dizer que “prefiro um sábio analfabeto a um néscio arquiteto”. Todas as visões e leituras são bem vindas, mesmo que recriminem o poeta e seus poemas. A Arte e a Poesia também se prestam e servem pra isto também. Que venham “a contribuição milionária de todos os erros”!
Como enxerga a cena contemporânea? Diante da dependência tecnológica e da força dos encontros da poesia oral você intui algum cenário para o futuro?
Apesar de tudo o que estamos vivendo, chamo este momento de um déjà vu da pré-infância da idade média, vejo a cena contemporânea com muito cuidado e muito carinho. Nada pior do que o binômio IGNORÂNCIA + TÉCNOLOGIA. Haja vista o resultado da última eleição aqui no Brasil; o volume de acidentados com motocicletas e automóveis que param nos hospitais e cemitérios; pais que mandam os filhos para um manicômio só porque fumam maconha; racistas, homofóbicos, misóginos, cruéis e gananciosos com a internet à mão. É por isto que digo que “A FALTA DE EDUCAÇÃO (em casa ou na Escola) É UM PROBLEMA DE SAÚDE PÚBLICA”! Imagine isto com a Poesia e a Arte? Muitos oportunistas e frustrados querendo parecer “artistas” como nos staffs de Hitler e Mussolini, ou os caçadores de Prêmios e Concursos Literários, vagas em Academias de Letras, ganhadores de Medalhas em Recitais Chinfrins da chamada “Elite Cultural”, só pra satisfazer seu medíocre ego social rsrsrsrs…Respeito muito a tecnologia quando utilizada para refletir, educar, promover sentidos e significados e atingir A SIMPLICIDADE que é composta de COMPLEXIDADES INIMAGINÁVEIS! A “falta de educação” é também uma forma de Educação. É também uma forma de cultura! E isto com a Impressa, Rádio, Televisão e Internet, as Mídias no geral em mãos imprópria e inescrupulosas, e isto é um desastre! Daí toda a falta de amor e criatividade!
A Poesia Oral, ou as Traições de Literatura Oral, ainda estão vivas apesar deste veículos de comunicação. Principalmente nos interiores do Brasil. Uso “interiores” no plural pois temos vários Brasis acesos devidos a muitos fatores históricos, etnográficos, culturais e econômicos por quais nosso país passou e passa. Estas oralidades ainda não estão e não estarão mortas graças à algumas atitudes e pessoas que utilizaram estas tecnologia como registro e também, e principalmente, à um dos principais arquivos existente na Humanidade: A MEMÓRIA!
De um modo geral, a tecnologia poupa o uso sensual (dos sentidos) das pessoas e nos enganam: Um videoclipe me conta uma história que nunca imaginaria e não tem nada a ver com a letra da música que li ou apenas ouvi. Ele criam uma interpretação imagética muito diferente daquilo que criei em minha mente. O que é absolutamente normal devido a diferença de REPERTÓRIOS, mas fica pior ainda quando adequada às necessidades de Mercado!
O poeta tem que ter bagagem ou bastam as costas fortes pra carregar pianos? Dá pra ser poeta sem ser leitor?
Mesmo o poeta analfabeto tem, ao menos, uma bagagem existencial riquíssima! Uma leitura “do pouco do Mundo” muito vasta: ele conta sílabas de uma frase inconscientemente, têm a fonética intuitiva, suas marcações rítmicas culturais, tem sua filosofia da linguagem na lida e na filosofia de seu mundo, interno e ao redor. São extremamente criativos e inovadores, pois os fatos do dia mudam de cara e de nomes… alie a isto as novas tecnologias que lhes vão chegando, devagar, mas chegando… os resultados são surpreendentes!
Bem, o poeta que vive nas cidades, urbano, metropolitano, que se propõe a entrar no mercado editorial competitivo, deste eu cobro muito… Pois não adianta repetir história, plagiar o que já foi feito, escrito… por mais que existam as parábolas, as paráfrases, as paródias… têm que ter muito instrumental, muita leitura, muito estudo, se possível em vários idiomas… não que isto venha a facilitar a vivência poética, mas sim a confecção de um poema que seja inesperado e fascinante em sua arquitetônica. É necessário domínio pleno do idioma com o qual escreve… filologia, epistemologia, etimologia, gramatica histórica, linguística e sua história, linguística histórica, filosofia, filosofia da linguagem, semiótica, semiologia, história da literatura de cultura do maior número de povos possíveis… tudo isto ajuda o ato da criação, mas também pode complicar e dificultar… o importante é buscar a simplicidade, a clareza, o ritmo, a fluência, a originalidade, o que ainda foi (ou não) dito de uma determinada maneira.
Um dos grandes problemas que vejo nos poetas fazedores de versos, antigos e atuais, é esta herança nefasta de querer escrever pomposamente no “parnasianês” ou no” simbolismo bovino” dificultando a vida dos precários e poucos leitores. São estas porras destes pretensos poetas que afastam os leitores da poesia, do poema e do poeta. São uns chatos triviais, que entopem as Academias, os Concursos e Recitais de Poesia. Este caras são umas pragas e um desserviço a Arte, a Poesia e a Literatura…
Quais seus projetos em andamento?
… Rsrsrsrrs… são vários e não sei se caberão nesta minha existência.
Creio que o primeiro deles é popularizar a poesia e a leitura de poemas para o maior número de pessoas o possível, seja trabalhando ou criando uma Revista de Artes de grande circulação. Bem a Internet está aí pra isto, também;
Solidificar e realizar um Centro Cultural, onde a população mais carente tenha acesso à Saúde, Educação, Geração de Renda, Artes, Histórias, Culturas Filosofias, Poesias, Poemas e Dignidade Humana para que estes possam repassar este legado à gerações vindouras. Já estou atuando dentro deste Projeto numa cidade do interior do Piauí;
Lançar mais dois livros de poemas (que já estão prontos) por esta editora fantástica a qual pertenço, além de dois livros de Contos que estou escrevendo e não tenho tempo e competência para terminá-los;
Gostaria de agradecer a Revista Arara pela oportunidade de exposição. Agradeço a minha família, aos meus amigos e amigas que me ajudaram sempre em meus momentos de desespero econômico e existencial. Não preciso citá-los, pois eles sabem quem são… Gostaria, por último, e não menos importante, de agradecer os meus inimigos (internos e externos) que me tornaram mais forte nesta empreitada de SER POETA num país de hipócritas, medíocres, miseráveis de espírito. Num país onde ser ignorante, idiota e imbecil é chique!
Muito obrigado, acho que não fui chato… rsrsrsrs…
Andara D’or I
P/ Kátia Regina do Morro do Formiga
65 dias internado
sem cirurgia, operação ou namorada
o café-com-leite da monotonia
o nescau do tédio
esses marasmos em pó
nascem meio ao tesão-de-mijo
e o sol debaixo do lençol.
o remédio sempre pontual
as enfermeiras não ousam
como nos filmes americanos
as camareiras enrolam
o resto dos meus sonhos
e as da limpeza
varrem as migalhas
da eternidade…
preciso urgentemente
de uma cama-de-casal.
na fumaça de meu cigarro
moscas, baratas e mosquitos
enjoam-se
de suas espetaculares funções
e as manhãs tardes noites
misturam minhas preocupações
às nuvens do mundo
nas janelas de fundo do
hospital.
quebrei meu braço
em dois lugares
não sei mais se voltarei
a abraçar com toda a força
tudo o que então amara
novamente
tenho vontade de fumar
mas o gás do isqueiro acabou
não há ninguém para me ascender
e não sei se amarei mais
a dormência de minha mão
isquierda.
todos os dias
os pastores evangélicos vêm
ortopedicamente me rezar
mas prefiro instintivamente
manuel e suas fraturas
suas erráticas bandeiras
ou a moça da limpeza
que vá me salvar.
hoje ela irá à Igreja de São Jorge
comerá feijoada
tomará um porre
roubará o cavalo do santo
e como Godiva enfeitiçada
gritará nua meu nome
à galope
de Quintino à Lapa
da Vila Mimosa ao Irajá.