Hugo Bessa e a Transformação por meio do Encontro
Há muitos anos, Hugo Bessa (@hugobessaescritor) leu em algum lugar a frase encontro de duas personalidades é pura química: se houver reação, elas se transformam”, que é atribuída a Carl Jung. Na hora, imaginou a história de um homem e uma mulher que se envolvem em uma batida de carro e acabam transformando a vida um do outro.
Ao longo dos anos, a ideia foi amadurecendo e recentemente ganhou forma através do livro “Por um momento, um dia, uma vida ou sei lá o quê…”, publicado pela editora Penalux. Contado a partir de múltiplas perspectivas, com pitadas dramáticas e doses de bom humor, o livro mostra como esse encontro de duas personalidades tão diferentes desperta sonhos antigos, novas ambições, além de dores e segredos que deveriam ficar para trás.
Nascido em Volta Redonda (RJ), Hugo Bessa vive em Cruzeiro (SP), onde cresceu e descobriu sua paixão pelas histórias. É jornalista, especialista em Língua Portuguesa, e atua na produção de conteúdo para comunicação empresarial. Sua estreia na literatura se deu com o livro “Em um lugar melhor” (Editora Chiado), baseado em um conto que ele escreveu logo após o falecimento da avó.
Confira a entrevista completa com o autor, abaixo:
O que motivou a escrita de “Por um momento, um dia, uma vida ou sei lá o quê…”?
Acho que foi uma das primeiras ideias de livro que tive, porém ficou guardada por muitos anos. Surgiu a partir de uma frase, que li em algum lugar, atribuída a Carl Jung: “o encontro de duas personalidades é pura química: se houver reação, elas se transformam”. Na hora, veio na minha mente essa história de um homem e uma mulher que se envolvem em uma batida de carro e acabam transformando a vida um do outro. Ao longo dos anos, a ideia foi amadurecendo e ganhando novos elementos, como a reviravolta perto do final e os capítulos sob o ponto de vista de pessoas que passam pela vida dos protagonistas.
Se você pudesse resumir, quais são os principais temas da obra?
O tema central do livro vem da frase que eu mencionei acima. Eu abordo como determinadas pessoas nos transformam, como somos transformados uns pelos outros. E isso pode ser por um momento (um ‘bom dia’ que você recebe em um dia ruim), um dia (uma conversa que você escuta e te faz repensar uma decisão) ou uma vida (quando algo mais grave muda o rumo das coisas). No livro, há exemplos de tudo isso.
Outro tema bem forte é o luto, por meio da Joana, que não conseguiu se reerguer com a morte da filha.
Falo também de frustração profissional, através do Roberto. Ele é bem-sucedido, mas não está feliz com a profissão e joga tudo para o alto.
Por que tratar deles?
O tema principal porque eu gosto de histórias onde os personagens se transformam, onde há esse encontro explosivo que tira tudo do lugar ou pequenos momentos que nem percebemos mas que são transformadores.
A frustração profissional vem dos meus quase 10 anos no mundo corporativo. Quando atuei diretamente nas empresas.
O luto é um tema que me interessa muito e que sempre está nos meus livros também, inclusive sendo o centro do primeiro.
E as questões LGBTQIAP+ são um compromisso meu comigo mesmo. Como autor gay, acho que devo trazer questões importantes, que façam as pessoas refletirem sobre preconceito.
Quais autores (e autoras) você considera suas referências?
Se eu for resgatar as minhas primeiras influências literárias, vou dizer que foram os gibis da turma da Mônica. Foi através deles que tomei gosto pela leitura. Inclusive, recentemente, com a candidatura do Maurício de Sousa à ABL, algumas pessoas questionaram se a produção dele seria literatura ou não. Para mim, sim, pois ele foi a porta de entrada de muitas pessoas no mundo da leitura, e a literatura comporta vários formatos. Enfim, voltando ao foco da pergunta… Eu sempre li de tudo, de Marian Keyes (famosa por Melancia, e teve uma época em que li um dela atrás do outro) a Philip Roth (Patrimônio é o meu preferido). Gosto de ler também textos teatrais e de escrever diálogos. Um dos autores que mais li foi Miguel Falabella, cujo texto irreverente é um dos diferenciais, junto com o senso de humor para tratar das relações humanas. E costumo dizer que sou formado em melodrama brasileiro, por sempre ter sido apaixonado por telenovelas. Finalizando as minhas referências, não posso deixar de mencionar Lya Luft, pois sempre fui encantado pela delicadeza da escrita dela e por suas reflexões profundas a respeito do ser humano.
Quais obras influenciaram diretamente a produção do livro?
Diretamente, nenhuma. Não consigo relacionar a história a outro livro, mas sempre gostei de dramas familiares, e claro que nossa bagagem literária nos influencia. Vou citar um livro que me marcou muito e que talvez seja uma influência na parte dramática, que é ‘Por favor, cuide da mamãe’, de Shin Kyung-Sook. E eu amo a forma como é contada ‘A Vida Invisível de Eurídice Gusmão’, aquela pitada de humor mesmo nos momentos de dor é um charme. Não posso deixar de citar novamente Lya Luft, acho que ela sempre me influencia de alguma forma.
Como você define seu estilo de escrita?
Simples. É a primeira palavra que vem na minha cabeça. Uma vez, uma senhora que trabalha na casa da minha mãe me disse: “as coisas que você escreve são fáceis de entender, por isso eu gosto”. Ela estava falando de posts que eu escrevia para o Facebook com alguns temas, e isso foi motivo de orgulho para mim. Eu trabalho para que a minha escrita seja simples, democrática e que alcance a todos. Para mim, não faz sentido se for de outro jeito.
Como é o seu processo de escrita?
O meu processo de escrita é caótico, nada regrado. Escrevi este livro em parte durante a pandemia, em uma época em que meu trabalho diminuiu, então ele foi meu companheiro. Comecei escrevendo mais de madrugada e, depois, quando meu trabalho voltou a ter ritmo, passei a escrever de manhã, pois notei que minha cabeça ficava mais descansada. Eu trabalho como produtor de conteúdo para comunicação interna e acabo escrevendo muito o dia todo.
Assim como em meus outros livros, ao iniciar esse, eu sabia o início e o final, mas nada do meio. Ele foi se desenhando na minha cabeça ao longo do processo. E em todos os livros, eu comecei, escrevi até certo ponto, parei, fiquei uns meses longe e voltei para a etapa final, como se eu precisasse de um distanciamento para ver se é isso mesmo. Nada pensado. Sempre aconteceu por acaso, e só recentemente me dei conta. Não sei se será sempre assim, mas até agora tem sido esse o meu processo.
Você escreve desde quando? Como começou a escrever?
Escrevo desde sempre. Aos 9 anos de idade, escrevi um livro chamado “O Natal de Carlos”, produzi umas oito unidades com xerox e dei de presente para a minha família. Também participei bastante de concursos de contos e poesias na época do colégio, ganhando alguns. Por um tempo, deixei essa veia literária de lado e estudei roteiro, escrevi várias sinopses de telenovela. Eu sempre estava rabiscando alguma coisa. Quando a minha vó faleceu, eu escrevi um conto que é a morte de uma mulher. Depois, vi que aquele conto daria um livro, e aí surgiu “Em um lugar melhor”, que publiquei pela editora Chiado.
Você tem alguma meta diária de escrita?
Não tenho metas. Geralmente, escrevo um capítulo por dia, porém no dia seguinte pode ser que eu volte para esse mesmo capítulo e fique trabalhando nele. E não escrevo todo dia. Depende muito do meu estado mental e da inspiração. Como eu já escrevo para empresa com ou sem inspiração, na hora do livro eu me permito o luxo de ser algo totalmente do coração, no momento que surgir.
Como foi a sua aproximação com a editora? Como foi o processo de edição?
Eu estava em busca de uma editora e, confesso, não conhecia a Penalux até encontrá-la no Google. E descobri também que ela fica em Guaratinguetá, cidade que eu adoro, onde já vivi muita coisa e que é perto de Cruzeiro, onde vivo e moro atualmente (ambas fazem parte do chamado Vale do Paraíba). Com isso, meu bairrismo falou mais alto e eu sabia que havia encontrado minha editora. Fiquei superfeliz quando o livro foi aprovado. O processo de edição foi tranquilo. Dei um pouco de trabalho com a capa, mas deu tudo certo. haha
Quais são os seus projetos atuais de escrita? O que vem por aí?
Eu estou bem no começo de um próximo livro. Será um romance LGBTQIAP+, onde passado e presente são unidos por um objeto em comum. E é só o que posso dizer.