Escarcéu - BEATRIZ VIRGÍNIA
A Revista Arara apresenta sua primeira série de vídeos de poesia declamada: Escarcéu.
Onde poesia é resistência, insistência para existir e respirar, brotam poetas dispostos a expor sua visão sobre o fatos, sua habilidade com o verso e a conversa, seu engajamento social.
Escarcéu é uma série de poemas autorais. São declamados por seus autores e o lugar de onde vêm estes versos é a periferia.
Chega de silêncios.
Escarcéu.
POETA: BEATRIZ VIRGÍNIA
Moradora do Complexo de favelas da Maré e de família potiguar, trago em minhas poesias as minhas histórias e a necessidade de reconstruir minhas memórias. Sou estudante de história da Uerj e educadora popular do Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré, além da minha atuação na área de história da saúde, mas foi no slam que eu consegui reconstruir minhas narrativas, comecei a competir no ano de 2019 no Slam Maré Cheia e ganhei uma vaga na final para competir o regional, atualmente ganhei o Slam Caju e estou competindo novamente uma vaga no Slam RJ. Com o coletivo Busina de artistas periféricos, trabalhei levando poesia para ônibus, trens e metrôs, um trabalho importante na minha renda de estudante que mora sozinha mas que ainda existe muito preconceito.
AMOLANDO AS FACAS
Eu lembro de uma menina,
Que quando criança sonhava em ser artista,
Gostava de imitar a Shakira,
E o batom vermelho da sua boca não saía
Queria ser cantora de forró!
Ela dizia,
Ou até mesmo Bailarina
Como eu queria,
Que essa mesma menina
Não precisasse sofrer no corpo
Com as marcas da vida
Que o seu pai fosse motivo de alegrias,
E não o resultado das suas noites mal dormidas
Bonitinha! Já podia ser estuprada.
Doze anos eu tinha,
Quando no caminho da escola fui abordada,
Por um homem que achava que sobre o meu corpo ele decidia
Foi a corrida mais longa da minha vida
Quanto mais eu corria,
Mais a escola desaparecia.
“Será que é isso mesmo ser mulher?” Eu me perguntava
Descobrir que sobre o meu corpo eu não mandava
E que um short curto era motivo de ameaças
A cada palavra eu ficava mais pálida
Toda noite a minha mãe gritava, era medo que a voz dela ecoava
E eu criança não entendia nada,
Achava que estupro
Não acontecia dentro de casa.
Ei, você,
Lembra a primeira vez que foi assediada?
Quais foram as palavras? Ou como seu coração pulsava?
Eu não me lembro de nada!
É uma sensação de que eu já nasci condenada,
E quando eu vi já estava sendo julgada
Por homens que pra mim nunca significaram nada
FICHA TÉCNICA
Poeta: Beatriz Virgínia
Direção e Imagem: Suellen Paim de Melo
Edição de video: Rute Grael
Trilha: Henrique Santos (Pakkatto)
Produção: Revista Arara