Escarcéu - rainha do verso
A Revista Arara apresenta sua primeira série de vídeos de poesia declamada: Escarcéu.
Onde poesia é resistência, insistência para existir e respirar, brotam poetas dispostos a expor sua visão sobre o fatos, sua habilidade com o verso e a conversa, seu engajamento social.
Escarcéu é uma série de poemas autorais. São declamados por seus autores e o lugar de onde vêm estes versos é a periferia.
Chega de silêncios.
Escarcéu.
POETA: RAINHA DO VERSO
MINIBIO: Rainha do Verso é pseudônimo de Rejane Barcelos. Estudante de Letras pela UFRJ, Rejane é atriz com 27 anos de carreira, cenógrafa e aderecista formada pela FAETEC/EAT, performer, escritora, poeta e slammer,. Participou de uma antologia e alguns zines. Atualmente organiza o slam Maré Cheia e compõe o coletivo Slam das Minas. É moradora da Maré e na favela retira os elementos da construção de sua obra.
FICHA TÉCNICA
Poeta: Rainha do Verso
Direção e Imagem: Suellen Paim de Melo
Edição de video: Rute Grael
Trilha: Henrique Santos (Pakkatto)
Produção: Revista Arara
: Sagrado feminino é a lata d água na cabeça de Maria
e a arruda da benzedeira
O samba da passista
O terço das almas na segunda feiraa
O gargalhar da pomba gira e a fé verdadeira
A missionária orando os jovens da boca a noite na rua quebrando barreira
Sagrado feminino
São os hematomas da mulher agredida cicatrizando
É a metamorfose das trans transformando armário em casulo
Recignificando
Sagrado feminino sao as mãos grossas de produto químico esfregando panelas rejuntes e privadas
Sagrado são os calos grossos envolvendo a enxada
O facao amolado das boias frias no canavial
O giro da baiana e o rodar de sua saia
Os pés doloridos das vendedoras de loja na véspera de natal
O capricho das aderecistas no barracão de carnaval
Pamela princesa negra do jongo dando seu aval
Sagrado feminino
São rimas de dina dii
O grave de Elza
os dribles da Marta
O trap de lewa d oxum
Dona Ruth de Souza nas telas da vida
Os nocautes de Duda santana
Os versos fortes do slam das Minas
Sagrado feminino e o parto da cracuda
O orgasmo da puta
As olheiras da mãe de família
A cura da mulher violada
O diploma da cotista
A terapia surtindo efeito
A desistência do suicídio
O quadradinho do 150 bpm
A mãe que põe o peito no bico do fuzil do pm
Sagrado feminino é alvará na mão cabeça erguida portão da frente a Lili cantando
A espera das cunhadas na fila da visita
Sagrado são os cotocos de lápis nas mãos de Carolina
O pretogues de lélia
Os escritos de Bell hooks
A saudade no peito de Marinete
A filosofia de ptahotep
Sagrado feminino é soujorne discursando
O reinado de aquatune
O legado de dandara
e marielle na plenária
Sagrado feminino e o mulherismo africana
E outras narrativas decoloniais
as águas da kuniwaza
Sobofu somé e o espírito da intimidade
e a canela do dia primeiro
O batuque no terreiro
O ebó das yás
O toco de vela de vovó Mirna
O xirê e as yabás
Sagrado feminino e a força de seguir viver e amar mesmo estuprada humilhada vilipendiada e agredida
E a mala no elevador
E a coragem da partida
E o cuidar de si
A fuga do relacionamento abusivo
E o não ao relacionamento tóxico
E o b.o na delegacia da mulher
E a liberdade de amar a quem quiser
o 180 discado com mais trêmulas
Mas convictas
A denuncia ao agressor
E o seguir a vida
Sagrado feminino Indianare e seu exército lutando por moradia
O mandato de Sônia guajajara
Katiuscia ribeiro e sua filosofia
Sagrado feminino e documento de retificação expedido
É currículo aceito
O grito de Luana munis travesti não é bagunça
A cesta básica doada a fome da mãe e suas crias saciadas
Sagrado feminino e a carteira assinada
é a vaga na creche e não precisar deixar seu filho no mundo pra trabalhar
é o útero de parir bandido parindo trabalhador universitário concursado doutor graduado
Calando a boca de político corrupto com seu útero sagrado
Sagrado feminino é meu baleiro meu isopor e meus versos cansados
O resto e ciranda de sinhazinha emocionada
Gratiluz
(Rainha do verso)