João Villaret, ator português da primeira metade do século XX, é responsável por interpretações memoráveis de autores consagrados, tanto de Portugal quanto da literatura mundial. Conheça um pouco de sua história e acesse os arquivos da RTP para conferir a integralidade de seus programas televisivos do fim da década de 50.
Em tempos em que tanto se fala em spoken word, poesia falada, slam e saraus, achamos importante lembrar de nomes inscritos na história da declamação de poemas.
A oralidade é peça fundamental na disseminação das experiências literárias. Alguns declamadores, através da interpretação dramática, dão tamanha vida e luz ao texto que passa a recair sobre estes uma impressão mais forte do que a de uma leitura reclusa. João Villaret, ator completo, referência no teatro clássico e de revista, no rádio e no cinema, é considerado absoluto nesta arte.
A longa tradição do teatro português atravessou o Estado Novo e, à revelia das sandices alegadas por censores, deixou seu legado e transformou-se, influenciando toda uma produção radiofônica, no cinema e, posteriormente, na televisão.
vida e obra
João Henrique Villaret nasceu em Lisboa em 10 de maio de 1913. Seus dotes teatrais foram precoces e, após terminar o liceu, aos 15 anos, ingressou no Conservatório Nacional de Lisboa.
Em 1930 conclui o curso e passa a integrar o elenco do Teatro Nacional, na companhia Amélia Rey Colaço-Robles Monteiro, onde permanece até 1944.
Em 16 de outubro de 1931 estreava na peça Leonor Teles, de autoria de Marcelino Mesquita, poeta, político e diretor da revista A Comédia Portuguesa, publicada a partir de 1888. Contracena com Palmira Bastos, Raul de Carvalho e António Pinheiro
Atuou no teatro clássico e também no teatro de revista, onde chegou a encenar algumas peças de sua própria autoria como “A nossa revista”, em parceria com Maria Clementina, “Diz-se por Música” em coautoria com Lucien Donnat e O Jogo da Laranjinha, de1941, encenada por Rosa Mateus.
João Villaret fez várias aparições no cinema. Estreou em 1937 no filme Bocage, realizado por Leitão de Barros e nos filmes Inês de Castro (1945) e Camões (1946). Nas obras de António Lopes Ribeiro apareceu em O Pai Tirano (1941), Frei Luís de Sousa (1950) e em O primo Basílio (1959).
Ficou muito conhecido através de programas do rádio quando passou a integrar o elenco dos Comediantes de Lisboa. Num programa na RTP, onde divulgava os grandes autores da poesia nacional, ganhou sua fama como declamador de poesias.
Adorado por suas interpretações de “Fado Falado”, “Cântico Negro”, “A procissão” e “O menino de sua mãe” sua voz está registrada em edições gravadas que explicam por si só o poder interpretativo do ator e a qualidade da poesia portuguesa, popular e ainda mais popularizada devido a uma forte tradição das artes dramáticas no país.
Através de seu enorme talento milhares de pessoas puderam ter acesso aos mais belos textos da literatura mundial.
Adoeceu e retirou-se dos palcos em 1960, tendo falecido no ano seguinte. A sua morte causou manifestações de grande pesar em Lisboa, de tal forma que, durante muitos anos, os lisboetas celebraram o aniversário da sua morte com um recital de poemas no Cinema S. Jorge, onde a sua voz se ouvia num palco vazio iluminado apenas por um foco de luz.
Em sua homenagem, Raul Solnado fundou, em 1965, o Teatro Villaret.
A Companhia Rey Colaço - Robles Monteiro
Fundada pelo casal Amélia Rey Colaço e Robles Monteiro, foi a mais duradoura Companhia de Teatro da Europa, tendo somado 53 anos de existência (1921-1974).
Agindo sempre à revelia do Estado Novo português, foram a principal referência contemporânea do festejado ator, cantor e declamador.
Comediantes de Lisboa
Companhia de teatro fundada por António Lopes Ribeiro em 1944 que durou até 1950.
Sua criação resultou de uma imposição legal: António Lopes Ribeiro precisou alugar o Teatro da Trindade para poder estrear o filme Amor de Perdição (1944) e, quando este saiu de cartaz, uma lei da época o obrigou a produzir teatro naquela sala.
Assim foram montadas diversas peças como Pigmalião, de Bernard Shaw, Fanny, de Pagnol, ou O Cadáver Vivo, de Tolstoi, onde brilharam atores como António Silva, Maria Lalande, João Villaret e Nascimento Fernandes.
Cinema Português
Documentário Leitão de Barros, O Senhor Impaciente (1998)
Direcção de Fotografia: José Luís Carvalhosa
Produção: Fábrica de Imagens · RTP
Realização: Fernando Matos Silva
Lisboa de Hoje e de Amanhã(António Lopes Ribeiro, 1948)
Este documentário é uma análise da cidade de Lisboa, feita por António Lopes Ribeiro, de quatro perspectivas: habitação, circulação, trabalho e, espaços de lazer.