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Mercedes Sosa, a voz da América Latina

Mercedes Sosa, a voz da América Latina

Dona de um repertório multinacional, que reunia as principais canções de protesto do Uruguai, da Argentina e do Chile, Mercedes participou de discos em diferentes países, e consolidou sua presença na música latino-americana como a voz mais difundida no continente ao longo dos anos 1970.

"Eu tinha cerca de 15 anos. Meu pai e minha mãe, que eram muito peronistas, aproveitaram um trem gratuito para a Buenos Aires para celebrar o "17 de Outubro" [Dia da Lealdade Peronista]. Eu fiquei, aos cuidados dos meus irmãos, mais solta… Na escola, a professora de canto faltou, e a diretora me disse que íamos cantar o Hino nacional, e que eu tinha que ficar na frente e cantar bem forte, para que todos me acompanhassem. Fiquei com vergonha mas cantei: aí debutei. Nesse dia também faltou a professora de trabalhos manuais, e então, com minhas colegas, fugi para a LV12 [uma emissora de rádio de Tucumán], onde havia um concurso. Minhas colegas me empurraram para que eu cantasse. Com medo de que meu pai soubesse, adotei o nome de "Gladys Osorio". Cantei Triste estoy, de Margarita Palacios. Quando terminei, o dono da rádio me disse: 'Você ganhou o concurso'. Então continuei cantando na rádio. Até que um dia eu pai descobriu, me chamou e me disse as palavras que escuto até hoje: 'Acha bonito isso de andar metida na rádio? É isso o que faz uma moça criada para ser decente? Gladys Osorio, venha cá, chegue mais perto… Devo cumprimentá-la? Olhe nos meus olhos! Estou dizendo para olhar nos meus olhos!" Mercedes Sosa

Mercedes Sosa era filha de uma lavadeira e de um trabalhador. Começou a cantar aos quinze anos e seus amigos a encorajaram a participar de um concurso de canto na rádio. Ganhou e, desde então, fez carreira cantando sobre suas origens humildes, sua mensagem, seu orgulho e sua bandeira de luta.

Mercedes nasceu em 9 de julho, no mesmo dia e na mesma cidade (San Miguel de Tucumán) onde havia sido assinada, em 1816, a Independência da Argentina. Foi, ao longo de toda sua carreira, defensora inconteste da independência, não apenas de sua pátria como de todos os trabalhadores, amealhando a alcunha de “voz dos que não têm voz”.

Chamada carinhosamente pelos argentinos de “La Negra” por sua ascendência indígena, incendiou os corações da juventude em todo o mundo com seu canto de resistência. Desde a tenra idade se ligou às tradições populares, tornando-se a principal porta-voz da música latino-americana. “Mi meta es cantar para la gente del pueblo”, dizia. E o seu canto “para o povo” transformou-se num “terror” para as tiranias impostas ao cone sul.

Signatária do “Manifiesto del Nuevo Cancionero”, formulado e divulgado em Mendoza, em 1963, tornou-se o mais expressivo nome do movimento deflagrado por ele. Ao longo das décadas de 1960 e 1970, regravou diversas músicas do conterrâneo Atahualpa Yupanqui e da chilena Violeta Parra, conhecidos pelas canções folclóricas que registraram. Sosa seria um de seus principais expoentes e, depois de Cosquín, gravou seu terceiro álbum, Yo no sing for singing, que foi um sucesso.

Sua estreia em disco aconteceu em 1961, mas foi com o LP Canciones con fundamento, uma coletânea de canções folclóricas argentinas, que Mercedes foi aclamada pela crítica, em 1965, e excursionou pelos Estados Unidos e pela Europa em 1967. Dessa viagem, herdou o apelido La Negra, referência à origem autóctone, filha de índios (e não de negros).

EL Cosquín Folklore Festival (Festival Nacional de Folklore de Cosquín) na Argentina foi um dos epicentros do boom dos latino-americanos. Lá, em 1965, o cantor Jorge Cafrune disse que, embora não tivesse permissão dos organizadores, queria levar uma artista tucumã ao palco. Mercedes Sosa havia lançado dois álbuns que passaram quase despercebidos e depois que tocou “Song of the Indian Collapse”, seu nome foi consagrado na Argentina e sua fama se espalhou pelo continente.

Simpatizante de Juan Domingo Perón na juventude, Mercedes Sosa apoiou as causas da esquerda política ao longo de sua vida, filiando-se ao Partido Comunista nos anos 1960. Após o golpe de estado de 24 de março de 1976 foi incluída nas listas negras do regime militar e seus discos foram proibidos. A partir de 1976 realizou giros pela Europa e pelo norte de África com o guitarrista argentino-peruano Lucho González. Terminaram a turnê no Brasil, onde gravaram outra versão de “Volver a los diecisiete”, com Milton Nascimento.

Permaneceu na Argentina, apesar das proibições e ameaças, até que, em 1978, foi presa durante um recital em La Plata. Não apenas ela foi presa, mas também o público presente. Em 1979, Mercedes decidiu se exilar, primeiro em Paris e depois em Madrid.

Durante a ditadura militar, enquanto esteve censurada lançou vários álbuns, destacando-se Mercedes Sosa interpreta a Atahualpa Yupanqui (1977) e Serenata para la tierra de uno (1979), adotando como mensagem a canção homônima de María Elena Walsh: “Porque me dói se fico, mas, se me vou, eu morro “.

Também em 1977 Mercedes gravou duas canções de Milton Nascimento: Cio da terra (com Chico Buarque) e San Vicente (com Fernando Brant). No Rio de Janeiro, em plena ditadura, comoveu um auditório lotado na zona sul da cidade com seu vibrante repertório. Logo no início, “Hermano Dame Tu Mano”, “Graças a La Vida”, “Cancion de Amor a Mi Pátria”. Um verdadeiro grito de guerra! Os tambores marcavam o ritmo da batalha. A platéia, uma mistura de argentinos, brasileiros e chilenos, não se fez de rogada: “Abaixo a ditadura!”, “Viva a Argentina!”, “Fora Pinochett”, “Liberdade!”, bradaram em uníssono. O canto de Mercedes mostrou ali toda sua força. Uniu a todos, independente da nacionalidade, na luta contra a prepotência dos regimes títeres dos EUA, implantados na América Latina.

 Incorporou o hábito de incluir canções brasileiras em seu repertório, algo pouco usual entre os intérpretes da música hispanoamericana de então. Algumas se tornaram clássicos de seu cancioneiro, como “Maria Maria” (também de Milton Nascimento e Fernando Brant) que lançaria ao voltar à Argentina, em 1982.

Em 1982 retornou à Argentina e fez treze shows no Teatro Opera em Buenos Aires, que se tornou um marco e um álbum. Era uma canção para a liberdade no país ainda reprimido. Sosa se reuniu com seu público acompanhado de alguns músicos que estavam começando a mudar a música argentina, como Charly García e León Gieco. La Negra seria um entusiasta da nova geração.

Continuou em atividade até morrer, em 2009. Principal divulgadora de canções de Violeta Parra largamente conhecidas, como “Gracias a la Vida” e “La Carta” (“Me mandaron una carta/ por el correo temprano/ en esa carta me dicen/ que cayó preso mi hermano (…)/ Por suerte tengo guitarra/ para llorar mi dolor/ también tengo nueve hermanos/ fuera del que se engrilló/ los nueve son comunistas/ con el favor de mi Dios”). Mercedes é frequentemente lembrada como intérprete de músicas como “Te Recuerdo Amanda”, de Víctor Jara, “Canción Para mi América”, de Daniel Viglietti, e “Si se Calla el Cantor”, de Horacio Guaraní.

Mantendo a coerência política, manifestou um forte repúdio ao entreguista Carlos Menem, traidor do peronismo e dos argentinos. Depois da devastação neoliberal, empunhou sua voz na luta pela reconstrução do país. Era uma entusiasta da unidade da América Latina. “Eu não escolhi cantar para as pessoas. A vida me escolheu para cantar”, afirmou ela, em entrevista recente para a TV.

Viveu até os 74 anos, 59 dos quais como artista. Produziu cerca de 50 álbuns, entre gravações de estúdio e shows ao vivo. Deixa um impressionante legado musical. Seu canto certamente servirá de pano de fundo para as reuniões da Unasul, a União das Nações da América do Sul, que ela tanto sonhou. Milhares de argentinos foram até o salão dos Passos Perdidos, no Congresso da Nação, no domingo para se despedirem de Mercedes. A cantora pediu para ser cremada e as cinzas espalhadas na cidade natal, Tucumán, em Mendoza e na capital Buenos Aires.

Hermano Dame Tu Mano

 

Hermano dame tu mano vamos juntos a buscar

Una cosa pequeñita que se llama libertad

Esta es la hora primera este es el justo lugar

Abre la puerta que afuera la tierra no aguanta más

Mira adelante hermano es tu tierra la que espera

Sin distancias, ni fronteras que pongas alta la mano

Sin distancias, ni fronteras esta tierra es la que espera

El clamor americano levante pronto la mano al Señor de las Cadenas

Métale a la marcha, métale al tambor

Métale que traigo un pueblo en mi voz,

Métale a la marcha, métale al tambor

Métale que traigo un pueblo en mi voz

Hermano dame tu sangre, dame tu frío y tu pan

Dame tu mano hecha puño que no necesito más,

Esta es la hora primera este s el justo lugar

Con tu mano y mi mano hermano empecemos ya

Mira adelante hermano en esta hora primera

Y apretar bien tu bandera cerrando fuerte la mano

Y apretando a tu bandera en esta hora primera

Con el puño americano le marque el rostro al tirano y el dolor se quede afuera

Métale a la marcha, métale al tambor

Métale que traigo un pueblo en mi voz,

Métale a la marcha, métale al tambor

Métale que traigo un pueblo en mi voz

Cancion de Amor a Mi Pátria

 

Será porque me dueles

Será porque te quiero

Será que estoy segura que puedes

Llenarme de palomas el cielo

Sera porque quisiera que vueles

Que sigue siendo tuyo mi vuelo

Será que estas en celo

Velando la alborada

O acaso acumulando desvelos

Por dudas largamente acunadas

Tan solo se levanta del suelo

El que del todo extiende sus alas

Amada mía

Querida mía

¡Ay patria mía!

De tumbo en tumbo

Se pierde el rumbo

De la alegría

¡Vamos arriba!

Que no se diga

Que estas llorando

Que tus heridas

Mal avenidas

Se irán curando

Defiende tu derecho a la vida

Y juntas seguiremos andando

Sera que ya no quieres

Sufrir más desengaños

Que vives levantando paredes

Por miedo a que la luz te haga daño

Si ya no vienen llenas tus redes

Tampoco hay mal que dure cien años

Quizás en apariencias

Te alejas o me alejo

El caso es que sufrimos de ausencia

Con un dolor ambiguo y parejo

Amor no significa querencia

También se puede amar desde lejos

Amada mía

Querida mía

¡Ay patria mía!

De tumbo en tumbo

Se pierde el rumbo

De la alegría

¡Vamos arriba!

Que no se diga

Que estas llorando

Que tus heridas

Mal avenidas

Se irán curando

Defiende tu derecho a la vida

Y juntas seguiremos andando

Cancion de Amor a Mi Pátria

 

Será porque me dueles

Será porque te quiero

Será que estoy segura que puedes

Llenarme de palomas el cielo

Sera porque quisiera que vueles

Que sigue siendo tuyo mi vuelo

Será que estas en celo

Velando la alborada

O acaso acumulando desvelos

Por dudas largamente acunadas

Tan solo se levanta del suelo

El que del todo extiende sus alas

Amada mía

Querida mía

¡Ay patria mía!

De tumbo en tumbo

Se pierde el rumbo

De la alegría

¡Vamos arriba!

Que no se diga

Que estas llorando

Que tus heridas

Mal avenidas

Se irán curando

Defiende tu derecho a la vida

Y juntas seguiremos andando

Sera que ya no quieres

Sufrir más desengaños

Que vives levantando paredes

Por miedo a que la luz te haga daño

Si ya no vienen llenas tus redes

Tampoco hay mal que dure cien años

Quizás en apariencias

Te alejas o me alejo

El caso es que sufrimos de ausencia

Con un dolor ambiguo y parejo

Amor no significa querencia

También se puede amar desde lejos

Amada mía

Querida mía

¡Ay patria mía!

De tumbo en tumbo

Se pierde el rumbo

De la alegría

¡Vamos arriba!

Que no se diga

Que estas llorando

Que tus heridas

Mal avenidas

Se irán curando

Defiende tu derecho a la vida

Y juntas seguiremos andando

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