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Poemas de Torquato Neto

Poemas de Torquato Neto

Torquato Pereira de Araújo Neto foi um poeta, jornalista, letrista de música popular, experimentador da contracultura brasileiro. Envolveu-se ativamente na cena soteropolitana, onde conheceu, além de Gil, Caetano Veloso, Gal Costa e Maria Bethânia. Em 1962, mudou-se para o Rio de Janeiro para estudar jornalismo na universidade, mas nunca chegou a se formar. Trabalhou para diversos veículos da imprensa carioca, com colunas sobre cultura no Correio da Manhã, Jornal dos Sports e Última Hora. 

Torquato atuava como um agente cultural e polemista defensor das manifestações artísticas de vanguarda, como a Tropicália, o cinema marginal e a poesia concreta, circulando no meio cultural efervescente da época, ao lado de amigos como os poetas Décio Pignatari, Waly Salomão, Augusto e Haroldo de Campos, o cineasta Ivan Cardoso e o artista plástico Hélio Oiticica. 

Cogito

eu sou como eu sou 

pronome 

pessoal intransferível 

do homem que iniciei 

na medida do impossível 

eu sou como eu sou 

agora 

sem grandes segredos dantes 

sem novos secretos dentes 

nesta hora 

eu sou como eu sou 

presente 

desferrolhado indecente 

feito um pedaço de mim 

eu sou como eu sou 

vidente 

e vivo tranqüilamente 

todas as horas do fim 

Agora não se fala mais

Agora não se fala mais 
toda palavra guarda uma cilada 
e qualquer gesto é o fim 
do seu início: 
 
 
Agora não se fala nada 
e tudo é transparente em cada forma 
qualquer palavra é um gesto 
e em sua orla 
os pássaros de sempre cantam 
nos hospícios. 
 
 
Você não tem que me dizer 
o número de mundo deste mundo 
não tem que me mostrar 
a outra face 
face ao fim de tudo: 
 
 
só tem que me dizer 
o nome da república do fundo 
o sim do fim 
do fim de tudo 
e o tem do tempo vindo: 
 
 
não tem que me mostrar 
a outra mesma face ao outro mundo 
(não se fala. não é permitido: 
mudar de idéia. é proibido. 
não se permite nunca mais olhares 
tensões de cismas crises e outros tempos. 
está vetado qualquer movimento 

O Poeta é a Mãe das Armas

O Poeta é a mãe das armas 
& das Artes em geral — 
alô, poetas: poesia 
no país do carnaval; 
Alô, malucos: poesia 
não tem nada a ver com os versos 
dessa estação muito fria. 
 
O Poeta é a mãe das Artes 
& das armas em geral: 
quem não inventa as maneiras 
do corte no carnaval 
(alô, malucos), é traidor 
da poesia: não vale nada, lodal. 
 
A poesia é o pai da ar 
timanha de sempre: quent 
ura no forno quente 
do lado de cá, no lar 
das coisas malditíssimas; 
alô poetas: poesia! 
poesia poesia poesia poesia! 
O poeta não se cuida ao ponto 
de não se cuidar: quem for cortar meu cabelo 
já sabe: não está cortando nada 
além da MINHA bandeira ////////// = 
sem aura nem baúra, sem nada mais pra contar. 
Isso:ar. ar. ar. ar. ar. ar. ar. ar. ar. ar. ar. ar. a 
r: em primeiríssimo, o lugar. 
 
poetemos pois 
torquato neto /8/11/71 & sempre. 

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