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Poemas de Victor Colonna

Victor Colonna é poeta e cronista, autor de Sujeito Oculto (1999), Cabeça, Tronco e Versos (2009) e Antes Que Eu Me Esqueça (2015). O poeta e cronista apresenta suas poesias declamadas.

  Uma sedutora autenticidade transborda tanto da escrita como da fala de Victor Colonna, um autor que caminha no presente atento a si e ao movimento do mundo e seus olhares.

Também, pudera! A sua escrita é pungente e fluida como uma boa conversa que, embora nos forneça lirismo, vem armada contra a hipocrisia e disposta a nos sacudir internamente.

Ora melancólica ora irônica, a obra de Victor é verdadeiramente apaixonada e corajosa, precisa no uso da palavra, instigante e provocativa. Sua temática é a vida, a minha, a sua, o encontro e tudo que nos aproxima.

“A poesia é o caminho mais curto entre duas pessoas.”
Victor Colonna é poeta e cronista, autor de Sujeito Oculto (1999), Cabeça, Tronco e Versos (2009) e Antes Que Eu Me Esqueça (2015).
Vermelho Vivo
Choro lágrimas de sangue.
Carrego sangue nos olhos
Sangue na alma
Sangue no peito
E sangue em meu coração.
Mas não sangrarei em silêncio.
Não carrego sangue nas mãos
Post Scriptum
Deixo para o mundo minha gastrite
Minha enxaqueca e um pouco de azia
Minhas madrugadas sem limite
E a angústia sob o sol do meio-dia.
Deixo também, como herança, a preguiça
A luxúria, o orgulho e a ironia
Uma dose de veneno e cobiça
E a descrença acrescentada à apatia.
Podem levar meus amores relapsos
Minha loucura crônica, os colapsos
E um eventual resto de alegria
Mas fica comigo aqui, resguardado
Aquele que será o meu legado
Minha alma seca e minha poesia.

Sujeito Oculto

O problema são as conjunções desconjuntadas 
As interjeições rejeitadas 
Os adjetivos desajeitados 
Os substantivos sem substância  
As relações de deselegância entre as palavras. 

É preciso superar o superlativo: 
O absoluto sintético 
E o analítico. 
Achar o verso 
Entre o verbo epilético 
E o pronome sifilítico. 

Falta definir o artigo inoxidável 
O numeral incontável, impagável. 

Resta procurar o objeto direto 
Situar o particípio passado 
E o pretérito mais-que-perfeito 

Desvendar a rima 
Desnudar a palavra 
Encontrar o predicado 
E revelar o sujeito. 

Seis graus de separação

Você já deve ter ouvido falar na teoria dos seis graus de separação.

De acordo com ela, a maior distância entre dois indivíduos é de seis pessoas.
Funciona mais ou menos assim: digamos que A more no Brasil e G no Japão, e A e G não se conheçam. Segundo a teoria, A conhece B que conhece C que conhece D que conhece E que conhece F que conhece G.
Esta seria a distância máxima entre duas pessoas na face da Terra.
Da morte, estamos sempre a um grau de separação.
Morre-se de câncer, de dengue, de tristeza, de maduro e de novo.
Morre-se aos 23, aos 37, aos 91, aos 2 e aos 55.
Mas, para além da morte, há dias de um azul brilhante e vaidoso. Noites que se abrem no céu. Nuvens pesadas. Chuva leve. E o cheiro de ozônio que invade o peito de repente e nos faz sentir íntegros, inteiros.
O caos se organiza e tudo entra nos eixos. Sem aparas. Sem arestas.
É o momento da queda, quando a gente cai em si e fica tão próximo que descobre.
Nessas horas, não há separação que resista.
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Literatura Brasileiradeclamaçãopoesia
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