3 poemas de Janúario Esteves
NOITE E ABANDONO
Noite e abandono
Ao desleixo da hora
Cão sem dono
No ventre da demora
O desejo abraça
A escarpa fugidia
E o sonho enlaça
A febre do dia
É outro querer
E julgar o tormento
Por jus de obedecer
Ao que vem de dentro.
VIDUA
Traziam andores e sacrifícios em todas as pernas
Ritos antigos que gostavam de ostentar com orgulho
De quando o homem comungava com a floresta e com os animais
E a existência polvilhada de desafios, como não ter que comer
Ou dormir, e procurando horas por um refúgio cavernoso
Gritando em voz alimentícia o grito pavoroso da fúria.
Agora luzia por quem ardia
Não te atrases, porém
Deixar nosso diria
A quem aqui não convém
Metido consigo mesmo
Vai o poeta com o mundo
É velo torresmo
Do mesmo corpo imundo
24 horas e já casulo
Fénix, subtil mariposa
Do breve gesto nulo
Nasce a vida gloriosa.
Sobre o autor
Januário Esteves nasceu em Coruche (1960) e foi criado perto da Costa da Caparica, Portugal.
Formado em instalações eletromecânicas, usa o pseudônimo de Januanto e escreve poesia desde os 16 anos.
Em 1987, publicou poemas no Jornal de Letras e participou ao longo dos anos em algumas publicações coletivas.