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5 poemas de Mauricio Simionato

5 poemas de Mauricio Simionato

Distopia Tropical

As moscas loucas de jazz anunciavam a chuva por vir.
Havia tirado algum tempo de férias na sala.
Ouvia o LP Imyra, Tayra, Ipy, do Taiguara.
O som da moto-serra ao fundo, lá fora,
não sei onde,
me transportava para longe.
Para algum lugar, lá fora,
não sei onde.
— Deixem-me aqui,
com minha distopia tropical,
às moscas.
Infinitivo
Não é definitivo o mar lhe
saborear os joelhos.
Mesmo sem tê-los para si
por alguns instantes.
É definitivo que se ame
no inverno intransitivo.
Que se crie em ti
um Deus indefinido.
Estritamente infinitivo ao tempo.
E não é definitivo
que sejamos só a pele
e que nos despedace em algo
sem iguais
nem mesmos.
É definitivo
que o além-coisa
enlouqueça-nos
antes que amanheça.
E, sem pulso, a noite
ofereça-nos estrelas,
que nos abrace
sem o aviso:
Indefinitivo.
Calíope
Essa coisa,
ela sobrevive,
de um emaranhado
de emaranhados.
Que são designações dos sentidos
de qualquer um.
Essa coisa
nunca morre
e vive cheia de tudo
o que há entre antes da vida
e depois da morte.
Ela tem exatamente a importância que lhe damos.
Não se importa com o que somos,
contanto que nos tenha
vivos ou mortos.

A praia

Engulo um punhado de terra arrasada
enquanto roço o dorso na fumaça amareada de desencantados arados.
Os rochedos desconfiam dos jogos de amar e desamar.
Aprazível mar, que me enlaça nas névoas do destino ocaso.
Derivo nos espaços que me cabem
e ressurjo afogado de ar, à beira de um oceano qualquer.
De bruços na areia, estanco o fluxo que me trouxe à vida.
Respiro o dia para deixar de ser fim,
embaçam-me os sonhos a perder de vista.
Trago lábios oxigenados e olhos exilados,
ossos refugiados e cílios marejados.
Também sou criança.
Trago em meus pulmões o sal da saudade perdida.
Não sinto mais o gosto de conchas vazias em minha língua,
sílabas indizíveis me trouxeram até aqui.
Invado sua praia sem fazer castelos,
Sem pipa, sem bola e sem sorvete.
Sou mais um imperador das brincadeiras que perderam a esperança.
Sou o Amor na brisa de outrora,
sou quem você não deseja ver em uma manhã ensolarada de marés baixas
Não avisto as nuvens de hoje,

mas sempre me entrego a elas. 

Busca
Gosto das pessoas que buscam.
Porque acabam
por perder aquilo que não
são.
Gosto dos que procuram.
Mesmo que seja
esquecer a lava crua
que lhes escorre entre
os dentes.
Gosto mesmo é das pessoas
que buscam estourar
na leveza
de um toque com o indicador
a membrana
que recobre o dia.
Que seja vazia, então,
a dor que lhes entorpece
o chão.
Gosto também dos que buscam
apenas aquecer o coração
na noite fria
que se anuncia.
Mas gosto, sobretudo,
Dos que apagam
pontos finais

Nascido em Assis (SP), jan/1973, e morador de Campinas (SP), Maurício Simionato é poeta e jornalista. Autor dos livros de poesias “Impermanência” (2012, selecionado pelo Fundo Municipal de Cultura de Campinas) e “Sobre Auroras e Crepúsculos” (2017, ed. Multifoco). O terceiro livro de poemas está em fase final de produção. Já teve poemas publicados em espaço digitais como Ruído Manifesto, Literatura&Fechadura e no site A Bacana, de Portugal. Teve sua obra como tema do projeto ‘Poesia na Roda’, do SESC-Campinas. Publicou nas antologias Poesia Agora (Trevo) e Hilstianas (Patuá). Como repórter, atuou como correspondente na Amazônia por três anos e trabalhou em diversos veículos nacionais como Folha de S. Paulo e UOL.

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