Meu Glorioso Pecado III
A que buscas em mim,
que vive em meio de nós,
e nos unindo nos separa,
não sei bem aonde vai,
de onde veio,
trago-a no sangue
assim como uma tara
Dou-te a carne que sou…
Mas teu anseio
fôra possuí-la –
a espiritual, a rara,
essa que tem o olhar
ao mundo alheio,
essa que tão somente
astros encara
Por que não sou
como as demais mulheres?
Sinto que, me possuindo,
em mim preferes
aquela que é
o meu íntimo avantesma…
E, o meu amor,
que ciúme dessa estranha,
dessa rival
que os dias
me acompanha,
para ruína gloriosa
de mim mesma!
Ser mulher, vir à luz trazendo a alma talhada
para os gozos da vida, a liberdade e o amor,
tentar da glória a etérea e altívola escalada,
na eterna aspiração de um sonho superior…
Ser mulher, desejar outra alma pura e alada
para poder, com ela, o infinito transpor,
sentir a vida triste, insípida, isolada,
buscar um companheiro e encontrar um Senhor…
Ser mulher, calcular todo o infinito curto
para a larga expansão do desejado surto,
no ascenso espiritual aos perfeitos ideais…
Ser mulher, e oh! atroz, tantálica tristeza!
ficar na vida qual uma águia inerte, presa
nos pesados grilhões dos preceitos sociais!