Alessandro José Padin Ferreira é poeta, professor universitário e jornalista. Graduado em Comunicação Social, com ênfase em Jornalismo, pela Universidade Católica de Santos, é mestre em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Após anos dedicados à atividade jornalística e acadêmica, retomou os estudos em linguagens poéticas, vem participando de antologias e prepara o seu primeiro livro com poemas.
5 poemas de Alessandro Padin
Alessandro José Padin Ferreira é poeta, professor universitário e jornalista. Após anos dedicados à atividade jornalística e acadêmica, retomou os estudos em linguagens poéticas, vem participando de antologias e prepara o seu primeiro livro com poemas
BLUES TARDIO
A décima segunda hora
[Na boca, um gosto salgado]
O meio-dia da vida rufando tambores
[No ouvido, um poema roubado]
Nas vísceras um desconforto
[Na mente, meio torto um arroubo]
Um tum-tum ritmado
[na encruzilhada, um grito rouco]
Um blues tardio
[Acorda a volúpia de mil amores]
FILME PAUSADO
Tem um pernilongo aí te enchendo o saco
Um frio danado no pé e uma xícara de chá vazia
Um chamado ali no quarto ao lado
Impressão, é a vizinha cantando a canção
Uma andorinha pousa na área de serviço
E você a chama pelo nome
É só solidão…
Vazio que escorre no lençol liso
No travesseiro sem as dobras cúmplices
O filme pausado nos créditos iniciais
A louça que acumula e o cheiro dela no pano de prato
EM DIREÇÃO AO ENTARDECER
Achou que era a sombra dobrando a esquina
Mas, nada, apenas o sopro do vento na árvore revolta
Achou que era um toque de mão no ombro
Mas, nada, apenas um pensamento velho, escombro do tempo
Queria ver a luz, queria subverter o destino
Mas, cansado, sentou e se sentiu só, vendo
Os pássaros voando em direção ao entardecer da vida
AMANHECE O ONTEM
Seria o metro
O exílio do instinto
A amarra do verso
Um azedo vinho tinto?
E a tônica perfeita?
Um tesão contido
Imperdoável desfeita
Um querer sem sentido?
E a rima que se esconde?
A que mora no velho casarão
Em Bilac e o seu bigode
Ou em qualquer coração?
Amanhece o ontem
Anoitece o amanhã
E o poeta segue o destino
Tal como rompante d´alma
Não é tudo paixão, amigo?
Tormenta que não se acalma?
A HORA SELVAGEM
Passei o dia a revisar cada mensagem
Um mínimo sinal, um eco, sussurro
No quarto que em manhã sem sol, escuro
Não guarda nem o cheiro, aroma, imagem
As mãos frias a tocar a hora selvagem
Que arranca azeda e crua o breve futuro
Que vil destrata a fé como casmurro
A erguer torto troféu em brusca passagem
Silêncio e o soprar do vento oeste
A flor branca a crescer rente a janela
O lenço que ao vestir morno reveste
Capricho que essa hora aguda enleva
O cair e levantar, o eterno teste
A luz que mora só em brilhante estrela