Wlademir Dias-Pino: pioneiro da poesia visual
Wlademir Dias-Pino é considerado um dos poetas mais importantes surgidos no século XX. Conheça os poemas/processos do artista experimental e poeta visual de vanguarda e confira as entrevistas do autor do primeiro livro-poema
Nascido no Rio de Janeiro em 1927, migrou ainda criança para o Mato Grosso, onde funda com outros companheiros, em 1948, um movimento que procurava intensificar a experiência da imagem poética. O manifesto do Movimento Intensivista foi publicado em 1951, no número inaugural do jornal Sarã.
Revolucionário, desenvolve métodos que repensam o poema para além de sua dimensão de signo linguístico, transformando o livro ou qualquer outro suporte em poemas manipuláveis pelo leitor.
Retorna à capital fluminense no florescer do movimento da poesia concreta, em conjunto com Haroldo de Campos, Décio Pignatari, Augusto de Campos, Ronaldo Azeredo e Ferreira Gullar. Ao lado desses poetas e de 22 artistas plásticos, participa da Primeira Exposição Nacional de Arte Concreta realizada em dezembro 1956 no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM/SP).
Bastante crítico em relação à objetividade construtiva, o autor investe em um pensamento gráfico que confronta a leitura ao universo das imagens e suscita a pessoalidade da ação do leitor sobre o poema.
Livro-Poema
Os livros-poemas, termo que designava suas experiências plásticas/poéticas, constituem sua principal contribuição para a visualidade na poesia brasileira. A partir de um tema, o registro prioriza a exibição de sua mecânica construtiva e da estrutura do poema. Esvazia-se o poema de significado para torná-lo plástico e manipulável pelo leitor. Em seus livros-poemas o alfabeto serve de pré-texto para a criação de outros códigos visuais, relembrando o caráter imagético da escrita.
A Ave
“Quando nós fizemos A ave, nossa intenção era propor uma separação entre escritura e leitura. Se estabelecemos uma tábua de palavras com a memória do livro, separamos aquilo que é escritura do que é leitura. Nós tentamos fazer com que o próprio poema faça a leitura do poema” (entrevista publicada no catálogo Arte e Palavra, 1986)
O poema/processo foi desenvolvido como um livro que se auto explica ao longo do uso. Cada página apresenta um verso que interage através da transparência do papel com a página seguinte, composta por um gráfico indicador de leitura que inicialmente recupera o sentido do poema, em movimento de leitura análogo ao voo de uma ave no céu.
Sólida
“Em Solida a ilustração nasce simultaneamente à inscrição, elas estão interligadas. Mas para fazer isso era preciso uma libertação da figuração.”
O poeta apresenta o cartaz-gráfico-poema como um desdobramento radical de A ave em que a leitura se faz por um sistema que antecipa o código de barras. Solida, se apropria da ambiguidade entre as palavras solidão e sólida para convidar o leitor a dar corpo ao poema através da manipulação das páginas do livro.
O poema Infinito
O poema infinito de Wlademir Dias-Pino, foi apresentado em exposição no Museu de Arte do Rio, e traz ao conhecimento do público a obra de um dos mais significantes artistas do Brasil. Com curadoria de Evandro Salles. A mostra reuniu mais de 800 peças entre livros, cartazes, objetos, fotografias, desenhos, vídeos e instalações para contar a história de quase 90 anos de vida do artista.
Imagens: Carol Marimon e João Fincatto)
Enciclopedia Visual Brasileira
Em suas últimas décadas, Dias Pino se dedicou à elaboração da Enciclopédia Visual Brasileira. O artista carioca acredita que se existisse uma enciclopédia da América Latina, que fugisse do modelo estadunidense, o verbete não seria a palavra, e sim, a imagem. Composto por 1001 volumes, o trabalho pretende apresentar a história da construção da imagem no mundo.
É sobre esse tema que versa seu trabalho na Bienal, do qual o próprio artista fala neste vídeo.
Assista a entrevista com o poeta
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Poesia Concreta
A poesia concreta é um tipo de poesia vanguardista, experimental e visual voltada para a valorização e incorporação dos aspectos geométricos à arte. Após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), o Brasil passou por um forte surto desenvolvimentista, com a implantação de indústrias nacionais, crescimento das cidades e novos meios de comunicação como a televisão. Neste mesmo período, surgiram o Museu de Arte de São Paulo (MASP, 1947) e o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM, 1948), que se empenharam em formar acervos e promover exposições. O movimento conheceu seu período mais ativo nos anos 1950, no período que seguiu a realização da I Bienal Internacional de São Paulo, em 1951, que proporcionou contato direto com diversas tendências internacionais.