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Como Borges se tornou um dos mais importantes escritores de todos os tempos

Como Borges se tornou um dos mais importantes escritores de todos os tempos

Era véspera de Natal de 1938, em Buenos Aires, sente-se um calor úmido e desconfortável. Jorge Luis Borges conta que subiu apressado a calle Ayacucho, empolgado com a ideia de convidar uma amiga para jantar.
Pelo caminho, bate com força contra uma janela aberta, acabada de pintar. Os vidros cortam sua testa, deixando cortes profundos. É Conduzido ao hospital mais próximo, mas o ferimento infecciona e Borges vive entre a insónia e o delírio nas duas semanas que se seguem. Fica perto de morrer mas salva-se, graças a uma intervenção cirúrgica bem-sucedida.

“Se não fosse aquele golpe que levei na cabeça, talvez nunca tivesse escrito contos”, admitiu o argentino.

Borges é um dos autores mais influentes e inovadores do século XX. Considerava-se um poeta, apesar de mais conhecido por seus muitos contos, que criam uma espécie de experimento de pensamento ontológico em algumas breves páginas.
A escrita representa, para o autor, um importante ponto de contato com o mundo. Mistura fatos e fantasias em cenários que exploram ideias tão complexas quanto inesquecíveis. A literatura é  um dos motivos mais recorrentes de Borges, que preenche com frequência as histórias com alusões e críticas a livros e autores que nunca existiram.
Os meus livros (que não sabem que existo)
São uma parte de mim, como este rosto
De têmporas e olhos já cinzentos
Que em vão vou procurando nos espelhos
E que percorro com a minha mão côncava.
Não sem alguma lógica amargura
Entendo que as palavras essenciais,
As que me exprimem, estarão nessas folhas
Mais vale assim. As vozes desses mortos
Dir-me-ão para sempre.
– Jorge Luis Borges, em “A Rosa Profunda”.
Jorge Luis Borges nasceu em Buenos Aires (24 de agosto de 1899). Interessou-se pela leitura graças à biblioteca do pai, composta quase exclusivamente por livros em inglês. Também herdou do pai um problema na visão que o cegou ainda relativamente jovem, mas não deixou de escrever.
Foi nomeado diretor da biblioteca nacional após o exílio de Perón, apesar de ser completamente cego.O bibliotecário que narra “A Biblioteca de Babel” faz referência a essa condição: “Agora que meus olhos mal conseguem distinguir o que eu mesmo escrevi, estou me preparando para morrer”.
O argentino afirma-se gradualmente como um dos mais importantes e influentes autores do século XX.  Foi criticado por seu ativismo político e pelas ideias ultraconservadoras, especialmente ao apoio que manifestou ao ditador chileno Augusto Pinochet. Ele mesmo justificava suas más escolhas políticas, dizendo que “…um escritor não deve nunca ser julgado pelas suas ideias, mas antes pelo prazer que proporciona e pelas emoções que provoca”. Morreu em Genebra, aos 86 anos (14 de junho de 1986), sem vencer o Prémio Nobel de Literatura.

Borges - Encuentro con las Artes y las Letras 1976 RTVE

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