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FGAM, lançamento de Felipe G. A. Moreira

FGAM, lançamento de Felipe G. A. Moreira

Doutor em filosofia, o autor carioca, Felipe G. A. Moreira lança o livro de poemas FGAM pela prestigiada Editora Patuá. O livro é a expressão do metamodernismo, termo cunhado pelo próprio autor para melhor definir sua expressão poética.  

3 Poemas de FGAM (Patuá, 2021), de Felipe G. A. Moreira

EUA 2019

Ninguém diz: cale-se.  

Cala a porra dessa tua boca. Ninguém. 

Ninguém diz. Sobre a sujeira nos teus dentes. Essa sujeira: 

não dá. É inaceitável. Não vende. Ninguém diz. 

Não gostamos de você. Não gostamos do teu “estilo”. 

Você é antinatural. Chocante e  

não muito melhor do que um vegetal. Ninguém diz. 

Preto. Teu preto. Ninguém diz. Tua puta. 

Ninguém é irônico com você.  

Ninguém diz. Latino folgado de merda. 

Ninguém é sexista. Ninguém é xenófobo.  

Ninguém. Eles sorriem. 

Eles são educados. Eles são seus melhores amigos. 

Eles são seus melhores parentes. 

Eles são seus professores mais dedicados.  

Eles são seus colegas de trabalho. 

Eles dizem: “obrigado”. 

Eles dizem: “claro”.  

Eles dizem: “por favor”. 

Eles dizem: “de nada”. 

 

E, então, você se cala. 

Não é súbito. Vão-se alguns anos. 

Vários anos. Muitos anos mesmo.  

Digamos: uns dois mil e dezenove anos. Mas eis que vem um cansaço. 

Uma velhice. Uma doença. 

Uma função na vida. Um medo. 

E, então, cordeiro… Bem, então, você se cala. 

Sequestro público da senhorita saúde

, pelas três décadas e três anos já,  

acho que o tenho feito com o grande esmero, o tenho feito com o imenso fastio,  

 

à la palhaço,  

 

você é tipo minha filha abusada tem vários silêncios, 

te arrasto por toda parte, 

 

minha fantasma, minha escrava, meu objeto abstrato de bolso, 

 

faça-me o favor, sim, por favor, diz, por amor dos deuses todos mortos,  

dos super-homens mesmo, eles também, eles também estão consideravelmente mortos,  

 

nesse tempo, quando estou a comer a carne dos porcos, a lavar a roupa  

 

feito a pessoa qualquer sofre pela jihad de ter uma jihad, mesmo uma jihad poética,  

carece mesmo de conjugar seus próprios mil Os Verbos,  

 

seguir O Evangelho Segundo FGAM, crer no cristo qualquer, quando o cristo qualquer é  

 

O Grande Constrangedor Constrangido, feito qualquer outro cristo qualquer, tipo o pão esfarelou,  

dizendo que venham a mim, que venham a mim os fudidos dos enfermos,  

 

ainda que eu seja O Grande Enfermo Fudido também,   

quando te fiz os interrogatórios,  

 

os afogamentos,  

os eletrochoques, a poesia do futuro é um novo ramo de… comédia escroto-solene,  

 

tenho praticado a falta de amor ao próximo ––bem,  

a cólera mesmo… os poetas do presente… todos, Os Imbezís da Burrisse Sem Fim…   

 

eu faço a poesia da nova e eterna aliança, as “novas” escrituras… 

 

bem muito a-su-por-tor-lá-rá, amar-lo-a-lo-ei-lá-rá, 

faça-me o favor, então, por favor….  

 

me diz, quando estou a ver este infinito que eram prateleiras de sabão em pó nos supermercados,  

 

apodrecendo-mer-mando-me todos Os Rostos,  

a brutalizar-lar-te a bucetinha, a cauterizar-lar-te o clitóris…   

 

como fica bastante suportável viver  

feito explodindo a boca com Os Balões Vermelhos subindo, subindo, subindo. 

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Abdelhamid Abaaoud

Neve e nós, nós cavamos. Eis que há 

casa. Eu me, te abraço. Nosso abraço  

nú é O Vermelho. E Allahu (nú) Akbar 

mei “fazemos” de conta ser tod’ aço. 

 

Champs-Élysées. Bem bonita, você. 

Você me fez não morrer congelado. 

Nós cavamos, cavamos lado a lado 

um buraco, soneto, bem clichê. 

 

Quase quero querer crer. Mesmo ser… 

branco? Quando não nunca houve Os Brancos. 

Você pouco é também branca. Teu blazer 

 

tem um furo. “Ma femme, tire os tamancos.” 

Quase quero dizer, mesmo te ver  

com o véu e dirigir sem solavancos.

Felipe G. A. Moreira nasceu no Rio de Janeiro em 1984. Publicou a peça poética Parque (Revista Zunái, online, 2008); a coletânea de poemas, Por uma estética do constrangimento (Oito e Meio, 2013); diversos poemas em revistas literárias; e na revista Subversa: literatura luso-brasileira (2018-2020), a coluna, Metamodernismo, onde faz correlações entre o que chama de poesia metamodernista (ilustrada no presente livro), e seus trabalhos em filosofia. 

Mestre em filosofia pelo Boston College (2013), e doutor em filosofia pela Universidade de Miami (2019) com período sanduíche na Universidade de Bonn, sua pesquisa mais recente é sobre a viabilidade de um conceito alternativo de Deus: o Deus desviante dos desviantes cujo nome próprio também é FGAM.  

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