Caralho, como alguém pode gostá de Copacabana! Mas num tem jeito, eu trabalho aqui, né? E quase todo dia vou na Miguel Lemos, lembra? perto da onde a gente se conhecemos. Isso, eu tô ainda no aplicativo, entregas pelo aplicativo. Eu vou ali pra essa velha senhora. E cara, é doido. Achava que era só restaurante, pegá as quentinha e levá. Cara, vou no supermercado, lavanderia pra pegar roupa, buscar cachorro depois do banho nas pet shop, banco pra pegar dinheiro, essas porra toda. Mas como não se pode reclamá e o melhó é agradecê pelo que se tem, amém, e trabalhá pra fazer tudo dá certo como disse o nosso Capitão, tamos na luta. Então, essa velha, que tipo já tem o meu telefone, é outra coisa. Ela é maió estranha, cara, tem um sorriso sei lá, assim, sabe, comé que eu vô dizê, sei lá, meio de doido, os olho sempre parece que vai chorá. Não, ela é sempre gente boa. Ela faz questão de atendê a porta, sabe. Não, não tá sozinha não, tem uma dona lá com ela, que tá sempre tipo sentada no sofá vendo televisão, fazendo a unha, ou no zap. Muito! dá pena: ela me abraça, aí outra vez fica distante e lembra que é pra ficá longe e limpá tudo com álcool. Outro dia ela me deu uma máscara dessas de médico já velha e cheirando ruim. Ela disse, tipo “meu filho, já falei muitas vezes pra você não deixar de se proteger”. fiquei muito sem graça. Aí a moça veio e gritou que isso já tinha passado e tal. Eu perguntei, a moça disse que tava caducando. Ela achava que eu era o filho dela que não ia mais lá e tal. A velhinha achava que eu era ele e que tinha voltado, que eu estava no estrangeiro dando aula lá de não sei o quê. A moça disse que o filho dela é professô, um babaca doidão que mora até perto, mas que não vai lá. Cara, maior pena. A moça disse que ela tinha um lance de medo de saí de casa. Se tremia toda, falava que ia morrê, que todo mundo tinha morrido, que ela ia se contaminá, e entra em crise, grita, se machuca toda. Triste. Ela também foi professora, cara. Acho que esse povo é tudo doido. Essa coisa de estudá muito é de deixá maluco mesmo. Minha irmã entrou nessa de estudá, ir pra faculdade e tal. Minha mãe falou pra ela trabalhá. Se deu mal. Foi mora com um professor. Lá é tudo doido e maconheiro, tu num lembra da putaria que o povo postou no whatsapp. Só Jesus na causa. Minha irmã caiu nessa, acabou na vala cheia de bagulho na cabeça. Te contei, né, ela se matô, cara, pulou lá da UERJ. Foda. Cara, comendo alguma coisa agora, tô escondido aqui no metrô. É cara, metrô é tranquilo, né. Sabe como é que é né, mano, as melhores coisas do Rio são os buraco! tá fechado então hoje? tamo junto! Vou desligar e voltar pra rua. Valeu.