Poemas de Fernando Antônio Fonseca
(pintura de Edward Hopper)
Em 2016 publicou IMPERFEITA DESARMONIA, poesias. Em 2018 publicou OCULTO E DENSO SERENO, poesias. ANIQUITARDREAM –poesias- saiu em 2019. Em 2020, publicou LIBERDADE EM FRASCOS, uma resenha de minicontos. Recentemente -2021- lançou LAVRA –poesias- e MOSAICO-poesias (prêmio de edição no “1º. Prêmio Travassos de Literatura-2021”. Já participou de várias antologias poéticas e divulgou seus textos em sites, blogs, jornais e revistas, no Brasil e exterior. Seu foco literário, concentra-se nas questões existencialistas, e na livre experimentação verbal.
ESPERA
iremos
como se ficássemos
e cresceremos como as ervas
nativas
cativas da ventania
estacionadas na travessia
para a inconsciência
sorveremos a secura da saliva
que regará as ásperas planícies
com a acidez do deserto
mas ao regressarmos
sem o tropeço das ilusões
ficaremos a sós
fora do alcance dos passos
da fera indômita
e nessa necessária espera
nada nos alvejará
nem mesmo um murmúrio
intruso
que possa demonstrar
sua tépida angústia
O POETA: POEMA DE BARRO
fora do âmago
de sua dor latente
não há ideologia
que se imponha
ao poema
o poeta é forma
imprecisa
é fronteira larga
que abrange
toda a vaga pronúncia
do imponderável
é vislumbre apagado
que não retém
-contudo
a valiosa aura
que nele subsiste
transpassando a pele
como um diadema
de espinhos cruéis
mas ao se reler
o poeta desperta
para a irremediável
façanha
de manter-se lúcido
na trama traçada
como planta sem raízes
solta sob a laje
do céu
que ainda perdura
obstinada
desafiando a moldura
que a detinha
SÓLIDA LUZ
admite-se
-é verdade!
que todo apelo injusto
e todo despotismo
possam vigorar
nos místicos umbrais
das muralhas rústicas
indicando
o provisório lugar
dos excluídos
onde
-é verdade!
sua sina resiste
como os dons benignos
de heróis mortos
repelindo
como couraça inviolável
as investidas do mal
no avesso
dessa dúbia prisão
CONVICÇÃO
ter-me por completo
é supor-me objeto
sem a compreensão
do que seja possessão
é valer-se de dogmas
verossímeis
com a insensata crendice
das coisas acabadas
-o que me faria compreensível
senão a inconstância do real
extraído dos códigos
que sinalizam um senso original?
convicto
não evito o irremediável
e proponho-me seguir
essa correnteza inevitável
“E a vida? Será um Mosaico? ” A 1ª. parte do livro MOSAICO (Síndrome do Amor e do Desamor) constitui-se de poemas que abordam as várias facetas de um relacionamento, às vezes acanhado, às vezes despudorado: a descrição do prazer e de suas fronteiras, sob a ótica do autor, que aborda poeticamente também o êxtase, a solidão e suas mazelas, explicitados em versos que mostram o deslumbramento e o desencanto de uma forma particular, como no poema “Amor e Solidão” (toda forma de amor / é certeza de amor cego / independe da visão / o ato de amar).
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E DAÍ?
Fernando Antônio Fonseca
-e daí?
que diriam as palavras
balbuciadas
pela lua sonâmbula
que durante seu repouso
vagueia em um voo de Ícaro
migrando para a latitude
que seu instinto indica
-e daí?
se este plenilúnio ou intrepidez
cortasse sua garganta
apátrida
com lâminas de aguçado arame
e destinasse aos abutres
um banquete indigesto
para saciar sua vida funesta?
-e daí?
se ao portar um sorriso universal
de Gioconda atônita
(em dias de tenebroso salitre)
restasse a ele o ímpeto
de uma onda otimista
arremessada no continente
como um maremoto maroto?
-e daí?
GESTO
Fernando Antônio Fonseca
antes do gesto
estava sua defesa
sua razão
que se antecipou a ele
e o protegeu
ignorando entretanto
o que lhe sucederia
caso se consumasse
o intento
de ataque ou defesa
de tristeza ou melancolia
-que mais seria?
senão uma eventual
anomalia
uma distorção no tempo
despertada
por um jato de incertezas
resultando na perda
de seu angélico escudo
última trincheira
de uma legião de nefelins
exilados em sua fé
-divergente porém
Fernando Antônio Fonseca, nasceu em Belo Horizonte-MG, onde reside. Aos 17 anos ganhou Menção Honrosa em um concurso de contos da Academia Municipalista de Letras de Belo Horizonte. Aos 20 anos, entrou para a Faculdade de Engenharia da UFMG para cursar Engenharia Química, onde se graduou. Trabalhou por algum tempo nessa profissão técnica, porém, depois, passou a se dedicar à literatura, sua real vocação. Em 2014 publicou seu primeiro livro de poesias, LUZES EM MONÓLOGO. Em 2016 publicou IMPERFEITA DESARMONIA, poesias. Em 2018 publicou OCULTO E DENSO SERENO, poesias. ANIQUITARDREAM –poesias- saiu em 2019. Em 2020, publicou LIBERDADE EM FRASCOS, uma resenha de minicontos. Recentemente -2021- lançou LAVRA –poesias- e MOSAICO-poesias (prêmio de edição no “1º. Prêmio Travassos de Literatura-2021”. Já participou de várias antologias poéticas e divulgou seus textos em sites, blogs, jornais e revistas, no Brasil e exterior. Seu foco literário, concentra-se nas questões existencialistas, e na livre experimentação verbal.