Poemas de Wálysson Luan
DESCENDÊNCIA
(Ao poeta Samuel Marinho, em razão do seu aniversário)
vim da lava chutada de vulcão
vim de marte, da arábia, de saturno e plutão
montado no cavalo de jorge
sem ser santo e pedindo carona
vim da matéria gozada dos ancestrais
dos trogloditas, dos metropolitas e dos urais
dos revolucionários, dos plebeus
patrícios e operários
arrastando a cortina do tempo
sem passar o pano da roupa
vim da miséria cozida dentro do mar
vim pela revolução do ar
dos subúrbios e distúrbios seculares
vim das tribos de israel e de judá
vim da demolição dos altares
dos templos faraônicos
e dos pilares da acrópole
vim dos desertos, dos espertos
dos povos aquém-mar
que desmontaram suas tendas
e fizeram amor ao ar livre
vim dos trilhos e ferrovias
do penúltimo século
com monóculo na mão
e colírio nas pálpebras
vim de tudo que é passado
do que restou e do que virá
sem escândalo
vim da ordem gerúndia do aiatolá
e fiquei ruminando suas mulheres
vim dos cantos, dos prantos, dos gonzos
das árvores genealógicas e católicas
do milênio segundo, d.c.
vim desse fim de mundo
começo de vida e meio de amor
vim dos rios, dos riscos, dos risos
e missais
que importa se esse pretérito
fosse perfeito ou imperfeito?
sou da tribo de levi e da ilha de lesbos
o resto que se classifique
CORPO
tintas da minha ancestral infância: misturei-as todas
retratos que governavam o centro de minha cômoda: descolonizei-os!
fitas de promessas enlaçaram minhas mãos para viagens romeiras: amarrei-as
lembro do meu passado como quem rebobina fita VHS
escorreram-se as lembranças mortas e superficiais e o escuro me contorce agora
nasce-me uma sensação gutural causando nojo
homem é vário
homem é outro
homem é desde o primeiro deus com duas pernas
homem é amálgama de prazer e escória
dúvidas da minha existência morta: há um faraó dentro de mim
o tempo far-lhe-á rei e dono de templos-tesouros
vozes da minha península quimérica: o sexo é frágil
desesperos que perpassaram minhas mãos
destroços que aglutinam meu couro cabeludo
místicos e músculos querem deitar-se comigo: serei virgem!
ferocidade: a maldade de um animal há de definir minha raça e seletar meu povo
não chegarei próximo a nenhum dos meus cromossomos: minha inocência foi letárgica
VERSOS LACRIMAIS
jorram as lágrimas! e tristes descem
pelo caminho da face raquítica
comprometendo a voz – tão paralítica-
com os ignóbeis soluços que crescem
ah! são esses pingos tétricos que aquecem
o corpo numa eficiência fatídica
qual será esta execrável lei da física
que até os seres humanos obedecem?
quantas criaturas já fizeram uso
e utilizaram-se também do abuso
desse líquido que acompanha as dores
porém, amigos, estão em desvantagens
os que utilizam de altas dosagens
as lágrimas para lembrar de amores
SOBRE O AUTOR
Wálysson Luan Amorim é natural de Iguatu -Ce e atualmente mora em Fortaleza. Formado em Filosofia pelo Instituto Diocesano de Filosofia e Teologia, no seminário São José, em Crato- Ce. Atualmente cursa teologia no Seminário da Prainha, em Fortaleza. Iniciou o curso de letras pela UECE, em 2012 e escreve desde os doze anos de idade.