(pintura de Edward Hopper)
Fernando Antônio Fonseca nasceu e reside em Belo Horizonte, MG. Publicou cinco livros de poesias, e um de minicontos, em edições independentes. Também, foi laureado em vários concursos de poesia de âmbito nacional, com prêmios de edição em antologias. Em 2021 lançou LAVRA, poemas (Caravana Grupo Editorial-MG/Brasil), e tem no prelo o livro MOSAICO de poesias (Travassos Editora-RJ/Brasil). Seu foco se direciona para as questões existenciais e humanas, e a livre experimentação verbal.
FALSO ALARME
condensa-se vapor
na superfície de meus olhos
dizendo da chuva
como um falso alarme
de intempérie imprevista
que se propagou sorrateira
beira de precipício
ou desalento
cravado sobre sólidas
muralhas, porém…
-lembrança do furacão
que já passou
SÓ SEI VELEJAR
rema rema
remador sereno
apruma a vela
e apara o vento
com sua ternura
de mar
ara ara
relha de arado
mas como não és
um veleiro
não conte comigo
pois não sei arar
RESTRIÇÕES PRÓPRIAS
quero
a direção que presumo
para que sobreviva
incólume
quero
a quintessência do céu
e o cintilar
de seu indelével véu
quero
o amor incontido
e a paixão
que me alague garrido
quero
a bonança dos versos
que me resguarde
de minúcias inconfessas
quero
as notórias palavras
para que não me suceda
o palavrório da lavra
Em Lavra, de Fernando Antônio Fonseca, a poesia extraída das palavras tornam-se versos preciosos. Atenção voltada para si, o poeta revela ciclos, paixões submersas – seriam amores proibidos? Entre um poema e outro, ele deixa escapar segredos, brinca com o próprio tempo, traça caminhos, atalhos e maneiras de se adaptar, como as próprias margens de um rio. Em suma, o poeta apresenta diferentes intempéries da vida das quais tenta se esquivar, mas termina entregando-se à sina, que confessa ser irremediável: amar.
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POR PERTO
1.
próximo ao cetro
ao homem pertence o poder
de ser
mentor de seu metro
2.
próximo ao coração
ao homem pertence o poder
de ser
mentor de seu desengano
3.
próximo à retidão
ao homem pertence o poder
de ser
mentor de seu plano
4.
próximo à glória
ao homem pertence o poder
de ser
mentor de sua história
NATURALIDADE
venho da terra
como todo vivente
meio descrente
meio temente
venho da água
como todo aguado
meio cheio
meio vazado
venho do fogo
como todo ariano
meio santo
meio demônio
venho do ar
como todo vento
meio aridez
meio relento
venho de Deus
como todo varão
meio instinto
meio razão
CONSCIÊNCIA
demora mais um pouco
-até quando?
até que se apure:
-o éter do perfume
-o sumo do licor
– o apuro do batel
só mais um pouco!
e veremos o dogma das trevas
ser vencido
pelo que não se pode contestar
pelo que não se efetiva
indiferentemente
qual seja:
-as luzes da consciência
subjetiva