Ninguém mais vai morrer na porta dos hospitais
Nenhum desrespeito será tolerado
Não existirão mais farmácias privadas
nem planos nem seguros
pois será proibido pagar por saúde
quando pacientes perderem a paciência
Leitos deixarão de ser propriedade de uns poucos
Na fila – única – classe, cor de pele, gênero, orientação sexual
não determinarão quem vive e quem morre
porque nenhuma pessoa, nenhum povo mais
será classificada pelo Estado como “matável”
quando pacientes perderem a paciência
O lucro não vai mais definir doenças
e ninguém mais vai engolir junto com os comprimidos
as péssimas condições de vida e trabalho
porque não haverá mais opressores e oprimidos
quando pacientes perderem a paciência
Acabará a exploração do trabalho e da natureza
e vírus nenhum se espalhará ou surgirá
por causa de jeitos doentios de se viver
já que a maior incubadora de tragédias “naturais”
(o capitalismo) será destruída a marretadas
quando pacientes perderem a paciência
Não existirão propagandas de remédios nem de alimentos
Será tamanha a clareza das pessoas sobre seu corpo
que a palavra prescrição será abolida do dicionário
Todo e qualquer tratamento será decidido em conjunto
quando pacientes perderem a paciência
Muitos intelectuais ficarão sem chão
ao verem que o problema central não era de administração
que as grandes soluções não eram humanização, formação,
avaliação, regulação, negociação
Ficará claro que o melhor dispositivo de gestão é a revolução
quando os pacientes perderem a paciência
Além de palmas, profissionais receberão respeito
e condições e contratos dignos de trabalho
Fundações, O.S., EBSERH, serão apenas letras
e palavras indecifráveis de papéis amarelados
no museu de nosso passado precário
quando as pacientes perderem a paciência
Não haverá mais abismos nem hierarquias
nem gritos nem silêncios nem prisões nem indiferenças
Os pacientes é que serão os deuses
quando perderem a paciência
Quando pacientes perderem a paciência
numa reunião qualquer do centro comunitário do bairro
serão decididos os rumos da ciência