Não tinha nem muito que pensar, eu nunca tinha visto uma espingarda, um
revólver, só nos filmes de guerra no cinema. Morria de medo daquilo. No fundo, o que
eu mais desejava mesmo, era não cair na mesmice. Como assim? Os anos sessenta,
setenta, oitenta, noventa, foram me ensinando a ser uma “menina” com os olhos
marejados pelas lambidas perdidas.
Eu sei que nem sabia meu lugar. Consegui umas idas e vindas e resistindo ao
século 21, o mais doloroso e ao mesmo tempo divertido, permiti algumas interrogações.
De perguntas em perguntas tive que lambuzar respostas. Por quanto tempo ofuscando,
por quantas noites mal digeridas, por tantos e tantos sorrisos falsos, procurava nas
entrelinhas o eu que já não existia. Está pensando que é fácil suportar do lambe-lambe
aos panos em planos ocultos e difusos?
De repente, resolvi renomear os escritos cuspidos em desafios. Até decidir me
despir de fantasmas da memória, sim, contei outra história.
A cidade amanhecia correndo, as pessoas caminhando com cachorros, o pronto-
socorro lotado, eventos publicados na internet, um bando de gente online. E agora? Dar
a alma ao capeta ou enfrentar tanta merda? Bom, podia não ser tão difícil, uma lambida
por vez. Por vezes tentei chamar a avó, por vezes cansei de ser só, só mais uma
embaraçada. As notícias, os rumores, os horrores, os aflitos, ovos fritos no café da
manhã, preto, puro, amargurado com tanta incompreensão. Coração movido à bateria,
carregador de celular destemendo sua relevância.