pAULO SÉRGIO KAJAL
Paulo Sérgio Kajal, ator, poeta iniciado nos Mistérios de Lapêusis, morador do subúrbio carioca e entusiasta da filosofia pilintriana. Kajal busca a transcendência através do tosco e do bizarro,passando pelo espectro exuzístico -faúnico até alcançar a epifania dos becos. Poeta, sátiro, xamã, bodisatva, mensageiro, Paulo oferece sínteses abertas ao invés de hermetismos pedantes. Suas declamações são hipnóticas e eletrizantes, sua escrita fluida é puro encantamento. Encante-se.
Filosofia de Eros
Não acredito num filosofia desconectada dos aspectos da sexualidade
Quero entender o recrudescimento da Guerra Fria
e a libertação através dos Orgasmos Múltiplos femininos
O Anarquismo, suas táticas de defesa e a libertação pela siririca
A plenitude do Orgasmo Seco
A Epistemologia da Cunilíngua
A Dialética do Fistfucking
A Pedagogia do Desejo
A Didática do Beijo
A Socialização dos Afetos
O Abstracionismo de uma Sauna Lésbica
A busca pela Estética entre o Ativo e o Passivo
A Supressão de toda e qualquer opressão sexual
A Relatividade Geral da heteronormatividade
A transcendência de Gêneros, Sexos e Sexualidades
A Geopolítica da Pegação
A política econômica do poliamor
A pureza religiosa dos não-monogâmicos
Só creio na Revolução que esteja sob a égide
de Eros, Dionísio
E Oxum
A Revolução é sexual
A Peça Chave do Amor
( Uma Ode ao Cu)
Cu é joia rara
por causa de cu tem gente que morre
por causa de cu tem gente que mata
Do cu ninguém nasce
mas cu ressuscita
cu não pare
mas para um casamento
pra uns é complemento
pra outros é essencial
cu mastiga, devora, digere, regurgita
Cu é ontológico, filosófico e social
agora tô vendo que o cu
tá se rasgando pra política
Cu esquenta o debate
Cu suscita a ação
Ah! Esse cu
vai acabar em revolução
Poema da Face Escura
Quando eu vim para este mundo
um Diabo muito garboso e desavergonhado
deu-me um tapa nos ombros e disse:
– Cara, tua não serás coxinha na vida!
Eu que de nada sabia
achei que o Diabo fosse
o mais alto grão-mestre
que neste mundo havia
e resovi partir com ele
pelas feiras,puteiros,bueiros
pelas casas de picardias
até que num dia
num lugar em que se servia
diamba e cumba
depois de muito bate coxa e rumba
ao toque da sanfona e do zabumba
o Diabo me confessou:
– Meu nome não é Diabo, porra nenhuma
Meu nome é Exu Tiriri com muito garbo –
e tocou-se a macumba.
Eu primeiramente espantado
achei aquele nome “Exu Tiriri”
muito engraçado e desatei-me a rir…
Ainda um pouco ensimesmado
mas querendo sair por aí
aceitei o fato de bom grado.
Paramos na beira uma praça
tomamos um velho whisky com boa cachaça
resolvi perguntar ao Exu-Tiriri
qual era minha verdadeira graça.
Ele me olhou zombeteiro,marrento,
faceiro e mandou:
– Você é torto, errado, errôneo
Nasceu do encontro do medo com o sonho
Não sabe ter metas, mas sabe ser tristonho
Tu és mais piegas que bebê risonho.
Teu nome deveria ser Pateta
Teu nome deveria ser Bisonho
mas te darei de presente um fardo tamanho
Te chamarei de Poeta
Dei ao Exu então 3 moedas
( que eu já tinha lhe surrupiado)
e ele partiu pela linha fora da reta
ficando eu sozinho a matutar:
Pateta…Tristonho…Poeta
fardo muito doloroso
a quem este nome carrega
Paulo Sérgio é poeta, ator e professor. Participa dos Sinérgicos, grupo de teatro formado na Escola de Teatro Martins Pena, participou do projeto Fora de Área, é da produção do Sarará o sarau. Apresenta-se em saraus da cidade como Ratos di Versos, Sarau do Escritorio, entre outros. Membro fundador do Sarau de Bárbara. É do Balalaica desde ontem de manhã cedinho, ou antes, talvez. Gosta de Dionisio, rua e orixás. Despacha humores de burocratas sem serviço com seus búzios poéticos.
Destino
Não sei ao certo
qual é o meu destino
se não fosse poeta
seria assassino
das minhas mãos que
saem letras e paixões
sairiam também
as piores ações
ser poeta, ser louco
ser criminoso
o que é pra ser… Será?
as mãos que letram fazem errar
as mãos que trucidam
fazem se apaixonar
e de amor por amor… Matar
Poetas usam, desusam
descartam papéis
arranham folhas
despem, desnudam
a si, pessoas, coisas…
Poetas, seres cruéis
dão a vida, trazem à luz
obstetras na sombra que induz
charlatões profetas
arrancam vísceras, legistas
Poetas de mãos incertas
emocionalmente chantagistas
se é esse o meu destino (???)
o de ser Poeta
que com mãos abre corações
dilacera pelos papéis e arrasta
o que me difere daquele irmão
que com suas mãos
se suja de sangue e mata?
A Divindade
A divindade habita o ritmo frenético e pulsante do carnaval. Habita a espera histérica do tempo do reverso. Habita a socialização dos corpos, a pluralização dos beijos, a promiscuidade dos odores, a sacralização das massas. O coletivo é soberano. A divindade se aloja na dissonância dos tambores,na integração dos suores, na iminência do perigo,no frenesi que vocifera as manifestações. Entre banheiros químicos e paredões de boquete. Na zanga dos inconformados e na ronda dos lobos solitários. Dentro do coração do soldado que pretende arrombar seu armário. A divindade se esparrama lubricamente no corpo da cidade – corpo mulher – A Lapa é um delta de Vênus. O carnaval treme orgástico do Aterro até a Central. Suas pernas macias alcançam de Ipanema a Madureira. E é nas coxas que a divindade goza e fecunda. Ela precede, incide,finda. E quando chega a morte: a quarta coberta de cinzas , a divindade já se recicla para a próxima metáfora da vida: o carnaval.
Boca
Uma boca é sempre uma boca. Ela fala e transforma a cabeça em uma sentença. Uma boca traduz o não-pensar… Lambe meu corpo, saliva a glande enquanto desperto, enquanto adormeço. Uma boca grita e se cala com meus espasmos. Para o tédio o escuro se forma,anoiteço.Atravessa a linha do cotidiano em delicado marasmo. Uma boca conhece cada parte da minha virilha. Minha matas, minhas cartografias. Uma boca fala idiomas de muitas terras. Acalma o corpo, sendo que cada corpo é um continente. Se engasga em suores, mata a sede em pântanos e torrentes. Uma boca conhece a língua dos querubins. Chicote do malfazejos, percorre corpo como uma viagem cujo fim está em si mesma. É só percorrer. Andarilha. Mel com amargor. Ainda que lacere prepúcios e acidentes ocorram durante o percurso. Uma boca é sempre a cavidade do Verbo. Ela cria a partir de pequenos sussurros de um universo em fricção. O mal é o que sai da boca: forma-pensamento-desejo. Atrapalha a rotina com seu hálito de indolência. Vasodilata o Cosmos. Enrubesce a carne viva. Sangue e veias pulsando na boca. Sede, silêncio e todos os sentidos. Uma boca é sempre uma porta. É sempre uma fenda. Uma brecha entre o profano e o divino.
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