2) Afinal o que é poesia/ De onde ela vem, onde ela está? Pra que serve neste mundo de pandemias, “pandemências” e pandemônios?
Tenho duas respostas a essa pergunta, a primeira como pesquisador do assunto se resume àquilo que o Aristóteles já disse: “Poesia é a feitura da mimese”, o xis do problema é entender o que é essa tal de mimese, coisa que exploro nos meus cursos de Filosofia da Arte, apoiado em alguns autores que têm muito a dizer sobre o assunto, como o Octávio Paz, o Luís Costa Lima, os grandes fricativos alemães como os irmãos Schlegel, o Schiller e o Schelling – sem esquecer de Herder e, claro, o Heidegger (lido pelo essencial Benedito Nunes) e com uma nuance fundamental de caras como o Mircea Eliade e o Benedetto Croce. Daí já dá pra ver que o terreno é espinhoso e por vezes enfadonho, e poderíamos tergiversar pacas a respeito sem chegar, necessariamente, a algum conceito preciso, mas, nesse caso, a elucubração é mais satisfatória e interessante do que o ponto de chegada da viagem. Por outro lado, como poeta, faço minhas as suas palavras que definem bem: “poesia é sentir e dar sentido”. À parte isso, creio que em termos pragmáticos a poesia acaba sendo instrumentalizada, porém nesse caso já deixa de ser arte e vira outra coisa, a poesia possui essa dimensão obvia da propedêutica, mas esse é seu aspecto mais primário, pra mim a arte, e a poesia é arte, não serve como utensílio e sua validade precisa ser procurada e definida por outras categorias que não a da racionalidade, e sim o sentir real (na acepção mais dura do termo estética). Enfim, se as pessoas procuram na poesia algum valor que não ela em si mesma, definitivamente não entenderam nada.