O experimentalismo inventivo de Hélio Oiticica
Hélio Oiticica (1937-1980) é um dos artistas contemporâneos brasileiros de maior destaque no país, deixando um legado importante e influências em outros campos da arte, para além das artes plásticas.
Arte e Literatura na América Latina
Hélio Oiticica (1937-1980) é um dos artistas contemporâneos brasileiros de maior destaque no país, deixando um legado importante e influências em outros campos da arte, para além das artes plásticas.
Hélio Oiticica (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1937 – idem, 1980). Artista performático, pintor e escultor. Sua obra caracteriza-se por um forte experimentalismo e pela inventividade na busca constante por fundir arte e vida. Seus experimentos, que pressupõem uma ativa participação do público, são, em grande parte, acompanhados de elaborações teóricas, com a presença de textos, comentários e poemas.
Através de seu trabalho é possível compreender a evolução de suas ideias, que ao longo do tempo foram objetivando cada vez mais a inclusão do público, em uma união entre a arte e a vida.
Uma das primeiras obras do artista é a série de guaches sobre papel denominada, nos anos 1970, Metaesquemas. Iniciada em 1957, essa série, segundo Oiticica, já apresenta o conflito entre o espaço pictórico e o extrapictórico, prenunciando a posterior superação do quadro. Assim, em 1959, o artista marca o início da transição da tela para o espaço ambiental, o que ocorre com os Bilaterais – chapas monocromáticas pintadas com têmpera ou óleo e suspensas por fios de nylon – e os Relevos Espaciais, suas primeiras obras tridimensionais.
No fim da década de 1960 começa a colaborar com a Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira. Envolve-se com essa comunidade, e, dessa experiência, nascem os Parangolés, a obra mais conhecida de Oiticica. São tendas, estandartes, bandeiras e capas de vestir que fundem elementos como cor, dança, poesia e música e pressupõem uma manifestação cultural coletiva. O próprio artista assim os define: “Chamarei então Parangolé, de agora em diante, a todos os princípios formulados aqui […]. Parangolé é a antiarte por excelência; inclusive pretendo estender o sentido de ‘apropriação’ às coisas do mundo com que deparo nas ruas, terrenos baldios, campos, o mundo ambiente enfim […]”
Em 1967, as questões levantadas com o Parangolé desembocam nas Manifestações Ambientais, com destaque para as obras Tropicália (1967), Apocalipopótese (1968) e Éden (1969). A Tropicália, apresentada na exposição Nova Objetividade Brasileira, no MAM/RJ, é considerada o apogeu de seu programa ambiental – é uma espécie de labirinto sem teto que remete à arquitetura das favelas e em seu interior apresenta um aparelho de TV sempre ligado. Depois que o compositor Caetano Veloso (1942) passa a usar o termo tropicália como título de uma de suas canções, ocorrem diversos desdobramentos na música popular brasileira e na cultura que ficam conhecidos como tropicalismo.
O projeto Éden – composto de Tendas, Bólides e Parangolés como proposições abertas para a participação e vivências individuais e coletivas – é apresentado em Londres, em 1969, na Whitechapel Gallery.
Considerada sua maior exposição em vida, é organizada pelo crítico inglês Guy Brett (1942) e apelidada de Whitechapel Experience. Com essa espécie de utopia de vida em comunidade surge a proposição Crelazer, ligada à percepção criativa do lazer não repressivo e à valorização do ócio.
Assim, Hélio contribuiu para uma transformação no universo das artes e para afirmação positiva do povo brasileiro e sua identidade, com uma trajetória artística que marcou as gerações seguintes, tornando-se referência para diversos artistas.