Publicidade

Oswald de Andrade, combativo e cosmopolita

Oswald de Andrade, combativo e cosmopolita

Jornalista, antifascista e integrante do Grupo dos Cinco do Modernismo no Brasil, foi o autor dos dois mais importantes manifestos modernistas, o Manifesto da Poesia Pau-Brasil e o Manifesto Antropófago, bem como do primeiro livro de poemas do modernismo brasileiro, Pau-Brasil.

Metalúrgica

 

1300° à sombra dos telheiros retos

12000 cavalos invisíveis pensando

40 000 toneladas de níquel amarelo

Para sair do nível das águas esponjosas

E uma estrada de ferro nascendo do solo

Os fornos entroncados

Dão o gusa e a escória

A refinação planta barras

E lá embaixo os operários

Forjam as primeiras lascas de aço

"Pensei em fazer uma poesia de exportação. Como o pau-brasil foi a primeira riqueza brasileira exportada, denominei o movimento Pau-Brasil".

Erro de português

Quando o português chegou

Debaixo de uma bruta chuva

Vestiu o índio

Que pena!

Fosse uma manhã de sol

O índio tinha despido

O português.

Pronominais

Dê-me um cigarro

Diz a gramática

Do professor e do aluno

E do mulato sabido

Mas o bom negro e o bom branco

Da Nação Brasileira

Dizem todos os dias

Deixa disso camarada

Me dá um cigarro

BIOGRAFIA

José Oswald de Souza Andrade nasceu em São Paulo, em 1890.

Em 1912, Oswald fez sua primeira viagem à Europa, de onde voltou com as novidades de vanguarda como o “Manifesto Futurista” de Marinetti, e com a estudante francesa, Kamiá, mãe de seu primeiro filho nascido em 1914.

Descobriu, na sua estada em Paris na época do Futurismo e do Cubismo, que os elementos de culturas até aí consideradas como menores, como a africana ou a polinésia, estavam a ser integrados na arte mais avançada. Assim, a arte da Europa industrial era renovada com uma revisitação a outras culturas e expressões de outros povos. Oswald percebeu que o Brasil e toda a sua multiplicidade cultural, desde as variadas culturas autóctones dos índios até a cultura negra representavam uma vantagem e que com elas se poderia construir uma identidade e renovar as letras e as artes. A partir daí, volta sua poesia para um certo primitivismo e tenta fundir, pôr ao mesmo nível, os elementos da cultura popular e erudita. 

Antes de começar a faculdade de Direito, Andrade trabalha como redator e crítico de teatro no periódico “Diário Popular”. A sua coluna era a “Teatro e Salões”. Atuou também no “A Gazeta” e no “Jornal do Comércio”. Com a ajuda da mãe, monta a revista “O Pirralho”, que já apresentava características do modernismo, movimento que estava por vir. O escritor Olavo Bilac foi um dos colaboradores. Mais tarde, trabalhou para o Diário Popular, Correio Paulistano, Correio da Manhã, O Estado de São Paulo.

Foi um dos interventores na Semana de Arte Moderna de 1922. Esse evento teve uma função simbólica importante na identidade cultural brasileira. Por um lado celebrava-se um século da independência política de Portugal, e por outro consequentemente, havia uma necessidade de se definir o que era a cultura brasileira, o que era se sentir brasileiro, quais os seus modos de expressão próprios. No fundo, procurava-se aquilo que o filósofo alemão Herder, no final do século XVIII, já havia definido como “alma nacional” (Volksgeist).

Nos anos vinte, Oswald voltou-se contra as formas cultas e convencionais da arte: o romance de ideias, o teatro de tese, o naturalismo, o realismo, o racionalismo e o parnasianismo. Interessaram-lhe, sobretudo, as formas de expressão ditas ingênuas, primitivas, ou um certo abstracionismo geométrico latente nestas, a recuperação de elementos locais, aliados ao progresso da técnica.

Posteriormente a 1922, desencadeou dois movimentos, o Pau-Brasil (1924/25) e o da Antropofagia (1928). O primeiro, ilustrado por Tarsila, utilizando elementos da vanguarda francesa, pregava a criação de uma poesia primitiva e nacionalista, fruto da união de uma cultura nativa com uma cultura intelectualizada. Sua proposta é a de unir a floresta e a escola. O segundo movimento questionava a estrutura política, econômica e cultural do país, entendida como uma herança deixada pela colonização. Em maio de 1928, colocou em circulação o primeiro número da Revista de Antropofagia, primeira dentição.

Em 1929, Oswald rompe com Mário de Andrade e separa-se de Tarsila do Amaral. Filia-se ao Partido Comunista e conhece a escritora e militante política Patrícia Galvão, a Pagu. Casam-se em 1931 e juntos fundam o jornal “O Homem do Povo”, que pregava a luta operária e durou até 1945.

Da união com Pagu nasce seu segundo filho. Em 1944, mais um casamento, desta vez com Maria Antonieta D’Aikmin, com quem teve duas filhas e permaneceu casado até o fim de sua vida.

Adversário do integralismo, do nazi-facismo e da ditadura do Estado Novo (1937-1945), em 1940, através de uma carta-desafio, lançou-se candidato à Academia Brasileira de Letras (ABL), não sendo, contudo, eleito. 

Em 1945 participou do I Congresso Brasileiro de Escritores, rompendo com o PCB. Naquele mesmo ano obteve a livre-docência de literatura brasileira na cadeira de literatura brasileira na USP com a tese A crise da filosofia messiânica.

Dentre as suas criações de cunho inovador, destacam-se: Pau-Brasil (1925); Cântico dos cânticos para flauta e violão (1945); O escaravelho de ouro (1945); Os condenados (1922); A escada vermelha (1934); Memórias sentimentais de João Miramar (1924); Serafim Ponte Grande (1933); e no teatro – O homem e o cavalo (1934), A morta (1934) e O rei da vela (1937).

 

Faleceu em São Paulo em 1954.

 

Canto de Regresso à Patria

Minha terra tem palmares

Onde gorjeia o mar

Os pássaros daqui

Não cantam como os de lá

Minha terra tem mais rosas

E quase que mais amores

Minha terra tem mais ouro

Minha terra tem mais terra

Ouro terra amor e rosas

Eu quero tudo de lá

Não permita Deus que eu morra

Sem que volte para lá

Não permita Deus que eu morra

Sem que volte para São Paulo

Sem que veja a Rua 15

E o progresso de São Paulo

Meus oito anos

Oh que saudades que eu tenho

Da aurora de minha vida

Das horas

De minha infância

Que os anos não trazem mais

Naquele quintal de terra

Da Rua de Santo Antônio

Debaixo da bananeira

Sem nenhum laranjais

 

Eu tinha doces visões

Da cocaína da infância

Nos banhos de astro-rei

Do quintal de minha ânsia

A cidade progredia

Em roda de minha casa

Que os anos não trazem mais

 

Debaixo da bananeira

Sem nenhum laranjais

alerta

Lá vem o lança-chamas

Pega a garrafa de gasolina

Atira

Eles querem matar todo amor

Corromper o pólo

Estancar a sede que eu tenho doutro ser

Vem do flanco, de lado

Por cima, por trás

Atira

Atira

Resiste

Defende

De pé

De pé

De pé

O futuro será de toda a humanidade

Series Navigation<< Quatro Poemas de Manuel BandeiraO amado, singelo e popular Mário Quintana >>
Publicidade
Publicidade