Poemas de Luciana Quintão de Moraes
Luciana Moraes é poeta carioca, graduada em Letras pela Unirio. Atualmente, integra a equipe do portal “Fazia Poesia” e a do coletivo “Escreviventes”. Possui poemas publicados em revistas como “Mallarmargens” e “Capivara”. Participou de alguns projetos poéticos, antologias, e está com um livro para ser publicado: “Tentei chegar aqui com estas mãos”.
Cor-po (versão maior)
O átrio da palavra Sortilégio
pulsa e redimensiona os tecidos;
defende sua sala de estar em si, amplia
Cada casa-órgão, congrega suas fibras celulares
face a face para se verem.
Em seus mistérios,
Irrompe. a. manhã___
Luz balão
Cor-po balão (versão reduzida e modificada)
O átrio do Sortilégio
pulsa e redimensiona os tecidos
(órgão casa-verbo
fibra Purkinje)
na dança de face a face se ver;
Assim, irrompe. a. manhã_
“Nélida Piñon Madeira feita cruz” (sem data), de Clarice Lispector – óleo sobre tela. Diálogo ecfrástico
Luto
Noite de Cruz e
aroma de flor:
não dormida, aguardando o
Espelho Límpido, qual sonho de outro sonho
Após a morte: Neste silêncio e abandono: tal aperto E sem garantias procuro o
horizon-
te no arado
eterno de
23:33 ainda
Luto luto luto
Quase não existe
não há fruta
há verme
mas vivo
na graça do nimbo
às cegas ] jurando
Anônima com fragilidade [ Cravar no solo meus dentes
de pantera negra; Triplamente; no cavalar;
do tempo_Tocando
as palavras proibidas
com o prazer do sorriso calmo
ainda que eu no luto e com a
Verdade em pinho de Riga
descreva o semblante de meu
desespero e esta fraqueza:
o espaço en-tre, alegria, 00:11,
não vencida, a escrita pulsando
quente ao ver a sombra das flores
Será um Luto?
chegar em casa,
o solo fértil que recebe o sol de toda gente em luto
qual invenção de Doentes-ofuscados na irradiação
surge o Inaugural abrigo
abaixo, um olho mágico
atento, enterrado elo
dos seres mínimos
“Pássaro da liberdade” (1975), de Clarice Lispector – técnica mista sobre madeira. Diálogo ecfrástico
Liberdade
Morrera Nascera
e
hoje inventaria outro espelho se já não houvesse
tocado aquele: origem e fim
vazio desta nossa liberdade
inteira claridade atrativa
uma aVe: escrit-asa do céu
Passo o esboço a limpo
simples passagem
lembrança não melódica
do outrora ouvido:
o canto do passado como Um sopro de vida
qual pássaro que ultrapassa qual-
quer paisagem e forma
cresço, heroica, qual
sumo de fruta que escorrre
e com o corpo recomposto de
ontem, descubro agora:
vibra (no) alto o mundo
vi-vi
bem vi(m) ver
o corte da realidade
o descortinado dia
em si, um lume imperecível
sereno e inefável
voo de águia-gaivota
deixo-te ser o alvo grito de
Rá ná
pi
Hóspede
Silên cio, peço calor
se eu fosse mais ligeira
fato: mãos não estariam
____assim tão secas
E este mundo que vai tão ágil
hidratado?
E chega tão rápido à porta da noite
E toca outras vidas, mas não tange os mortos?
E esse soco frio que te espanta:
que você não fez
que você não chegou lá
que não importa sua voz seu corpo sua mão
que o tempo passa que é pra correr
________________ultrapassar os outros?
Mas o dia não chega:
beijos por entre árvores imaginárias
Yamandú, nosso
Pai verdadeiro
Kaiapó, a noite me enlaça
à noite eu nasço
silêncio que tudo ilumina
Realizo outra face
tapuató
minha mão recompõe uma imagem
escreve, inscreve___um convidado
minha vista recria minha história
minha mão me toca
çakú icê
e me reconhece
parte da origem
icí__________um
caminho in fi ni to ]des-
enformado[
Sobre a autora
Luciana Moraes tem 28 anos. É poeta carioca, graduada em Letras pela Unirio. Participou do coletivo “Oficina Experimental de Poesia” (2017-2018). Atualmente, integra a equipe do portal “Fazia Poesia” e a do coletivo “Escreviventes”. Possui poemas publicados em revistas como “Mallarmargens” e “Capivara”. Participou de alguns projetos poéticos, antologias, e está com um livro para ser publicado: “Tentei chegar aqui com estas mãos”. Aprendiz da vida e do teatro. Publica no desdeopeitovida.blogspot.com e no medium.com/@lucianamoraes_88505.