Poemas de Marcos Mamuth

Marcos Mamuth é também (des)conhecido como  Marcos Alberto Taddeo Cipullo. Nasceu em São Paulo, no bairro da Mooca, em 1965. Guitarrista e compositor desde 1979. Psicólogo desde 1988.Escritor desde 1986.Professor universitário desde 1993; a partir de 2008, na  Universidade Federal de São Paulo (Campus Baixada Santista).Poeta desde sempre. 

(pintura de Edward Hopper)

Três Poemas e Um Fim Anunciado

I

Entre duas palavras,  

o vácuo. 

 

Impossível o som, 

a música, 

a voz. 

Impossível o fogo que,   

talvez,  

agora queimasse ameno, 

menos atroz 

em nós. 

 

Faltou combustível, 

essa certeza invisível  

e necessária: 

a esperança ordinária, 

pequena e tão preciosa.  

 

Nossa rota era perigosa, 

sabíamos. 

E nela morreríamos 

antes  de renascermos 

em nova versão. 

Éramos talvez 

e não. 

 

Entre duas palavras, 

lavramos apenas um contrato de dor. 

E nossas penas, 

(também chamadas de amor) 

eram tão mais pesadas do que o ar… 

Não pudemos voar. 

 

Fim? 

Sim. 

II

Cansei da minha mão intensa 

a agarrar amores improváveis  

pela desgrenhada crina. 

Esse ofício    

jamais termina. 

 

Cansei. 

Mal alcanço o teu passo. 

Desisto. 

Não posso contigo, 

já sei. 

 

É certo que alguém venha 

para conter tua sanha 

e abraçar teu perigo. 

Eu me retiro. 

 

Pobre de mim, 

derrotado e aflito, 

sem guarida, 

sem chão, 

desprovido de grito. 

 

Estou nu e atirado de volta 

ao começo. 

Me esquece  

e eu te esqueço. 

 

Em breve serei só. 

E depois, 

pó. 

Deixemos assim. 

Fim? 

Sim. 

III

Para que eu não enlouqueça 

enquanto te esqueço, 

escrevo. 

Rabisco a esmo 

qualquer bobagem. 

 

É essa miragem, 

o ato autômato de escrever, 

quem me escolhe. 

Minha melhor porção 

são os versos lançados, 

assustados e sem direção. 

 

Meu conforto, 

é o vazio  espesso da tarde abafada. 

Desenho eu mesmo qualquer estrada. 

E nela vou embora de mim. 

Fim? 

Sim.