Poemas de Vanessa Vieira

Nascida no final da década de 1980 no Rio de Janeiro, Vanessa Gomes é bacharel em Comunicação com ênfase Linguística e Estudos em Quadrinhos. Em um breve período, foi estagiária de fotografia e, em seguida, trabalhou no ramo editorial com obras de especialização. Entre os livros de programação e de exatas, sempre teve a certeza de que sua paixão residia na fotografia e na literatura com os livros de ficção e de poesia. Em 2022, a autora publicou o livro Crônicas do Retorno (Editora Folheando).

Impermanência

Contraditórias és tu
Impermanência que
Por onde passa e toca
Nos obriga se contentar
Com a ironia da semântica dos prefixos


Cético que sou
Permaneço na vontade e no desconhecido
De estender no desejo por mais de sua polissemia


Contraditórias és tu (impermanência)
Exprime no âmago
Lições de uma vida
E nos debruça por mais joelho
Quando somos mais colo


Contraditória és tu (impermanência)
Por brincar de ser intransitiva
Desprezar complementos
Nessa sintaxe que nos convida
A conjugar transformação

 

Dos autos

Existe algo interessante
Sobre declarações de amor
Elas são feitas ao tempo
Se trancam ao momento
Numa fragilidade íntima
Que só a ampulheta
Consegue simular
Como gotas de chuva
Se esvaindo pelo presente
Imortalizando o momento
Se emancipando da gente

Vizinha

O problema da tristeza
É que ela sempre aceita
O convite do almoço
E fica para o jantar
Faminta que é
Só se contenta
Com o cardápio do
Dia pelo ano.
Invés de estadia,
Faz morada.
Invés de visita,
Torna-se vizinha.

Poesia

O gracejo da poesia
É o seu processo de autofagia
Sobre o tempo
Que não se percebe esquecer
E apenas percorrer
Sua missão
Ressignificando palavras
Brincando de adjetivos
Quando em outra vivência
De uma época
Eram sujeitos e predicados.
O bolor da poesia
É que ela não se entristece
Quando sua estrofe rima em terminar.
O gracejo da poesia
É que ela sabe de alguma forma
Que existe todos os dias
Em algum canto do mundo
Quando a permitem.

Lua em sagitário

Ah, lua efusiva
Festiva em Dionísio
Meio pote de autoestima
Riso solto
Escárnio do tédio
Vivendo de outro mundo
Colocando o presente de escanteio
Cortejando o sol de dezembro
Mergulhando na audácia
Dos suores antecipados e gozos mornos
Apreciando o vento que varre tudo
E deixa o pó da bagunça da altivez
Que só você sabe dizer que isso
É o mais latente do viver
Rosto invisível
Olho expressivo
Beleza comum
Um ponto na multidão
Ironia violenta
Da lua efusiva de Dionísio
Profusão de pensamentos
Combustão do instante
Que provoca quando se menos espera
E dizer em alto bom som que só temos agora
Como fruto da pressa que nos resta


Ah, lua efusiva
Coração de criança
Ossos de gente grande
Que não se acostuma com
A voracidade do tempo
E a realidade dos dias
Que sempre que decide
Opta por acordar em melodias
De luas festivas de dezembro

Retrato

Escrever é sempre
Um retrato sobre
Uma viagem de ida
De uma temporada
Sem férias

Zeitgeist

Nossos avós falam das guerras,
Da fome, da pobreza;


Nossos pais falam das crises e dos pós-guerras,


Nós falamos dos egos.

 

Crônicas do retorno é resultado de idas e vindas da autora no âmbito da escrita. Em contato com a literatura desde os 14 anos (blogs sobre música na era otimista da internet) e em pausa desde os 24. Crônicas porque é vivência diária, tempo que marca, matéria-prima para escrever, para pensar, rebobinar, digerir e, por fim, colocar para o papel o que está guardado e pode se corporificar nos escritos. Retorno porque é a volta à escrita após sete anos.

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