Poesia e sonoridade: Raí Freitas e o UBandão
Batemos um papo com UBandão. Conhecida nos circuitos de música independente, formada por Rafael Clemente (baixo), Jeffei (bateria e percussões), Raí Freitas (violão e voz) e Hugo Cunha (guitarra e voz), a banda promove uma união entre a sensibilidade da poesia com o melhor da música popular brasileira. Um canto que encanta e merece chegar a cada vez mais ouvidos.
A banda possui uma riqueza de sonoridades, canções envolventes onde o texto ganha força e interage lindamente com a música. Quais são as fontes onde UBandão mergulhou?
As fontes são sempre diversas. Tão diversas que ficam até difícies de serem enumeradas, podendo assim, até cometermos uma injustiça (risos). Há sempre uma perspectiva de misturar, sabe? Misturar coisas diferentes. Cada membro da banda vai trazendo elementos, coisas, referências das coisas que foram se alimentando durante a vida à nossa música. O que a gente sempre tenta é pensar que, se há uma grande regra, mesmo que seja entre nós, na hora da produção, ela é, primeiramente, questionada. Assim vamos navegando, navegando, navegando e produzindo. A melhor forma de tudo isso que vocês citaram na pergunta, tomar essa força, é dando à produção liberdade.
Quem canta os males espanta. Pode a poesia derrotar o dragão da maldade?
É uma pergunta engraçada. A arte pode ser muita coisa! Ela comunica de várias formas, de vários jeitos e pode ser usada por vários motivos. Há vários dragões a serem derrotados por várias pessoas em vários momentos e lugares. Poderíamos responder essa questão de uma forma mais estrutural, dizendo que este dragão é resultado de um sistema que sobrevive de alimentar o próprio dragão para sobreviver. Mas diante de uma situação que estamos sob um governo extremamente autoritário, a arte pode ser usada para ajudar a mostrar as diversas formas de enganação que são usadas para o momento. Mas, honestamente, é uma tarefa que não é exclusiva da arte – esse combate a esse dragão – a arte pode fazer parte, se for usada para isso, mas também pode não fazer. Aí depende de como vamos pensar esta arte. Ta aí uma boa discussão a ser feita de conjunta com os que pensam e produzem arte neste país. Estamos sob forte pressão de censura, da tentativa de sufocar a liberdade de expressão, então como nós quanto artistas poderemos combater com o que produzimos é uma discussão urgente a ser feita.
Falem um pouco da trajetória da banda, dos percursos nos festivais, sobre como enxergam a cena contemporânea.
Ubandão nasceu sem muita pretensão. Engraçado que é isso que deixa a coisa mais bonita! Ubandão nasceu no seu próprio processo de nascimento, de uma forma muito natural e, o resultado final desse parto, é o nosso último disco. A cena contemporânea é sensacional. O Brasil é sensacional com música! Muita gente boa, muita gente talentosa. Pra fora também. Tem muita produção boa na gringa, muita produção boa rolando pelo continente…tem muita produção boa pulsando por aí. A gente sempre vê com bons olhos! A internet permite a gente ir se conectando com tudo isso, conhecendo e aprendendo. Nós temos o costume de ir trocando sons entre nós. Sempre tem alguém postando alguma coisa no nosso grupo do zap. Sempre alguém mostrando algo que tá ouvindo, que tá pesquisando e etc. Estar sempre de olho no que vai sendo produzido – seja por novos artistas, sejam as coisas novas de artistas que já estão na caminhada mais tempo – faz parte de ir compreendendo o que o país tá falando, o que o mundo ta falando…Arte é isso aí, né?!
A mídia de massa uniformiza e põe arte enlatada pra vender deixando pouca visibilidade aos artistas que circulam nas ditas periferias do país. Como uma banda independente busca e forma seu público?
Olha, essa é uma discussão muito boa. A gente já se pegou nessa discussão algumas vezes e, dentro da banda há diversas percepções, inclusive, em como caracterizar o que seria essa mídia de massa. Então, não vamos entrar nesse mérito em si, porque ele ainda é discutido entre nós e não há consenso (risos). Mas o que temos acordo é que o problema é a forma de produção. Num sistema como o que nós vivemos, onde tudo é mercadoria, essa perspectiva de “enlatar” que vocês citam, fazem parte do olhar da arte como uma produção em larga escala para ser vendida. Tanto que, é uma velha briga, que sempre ouvimos, dos artistas e os famosos atravessadores que olham para o artista apenas como um cara rentável. A arte é uma parada mais complexa que isso, né? Então o problema começa e termina nesse sistema de produção. A partir disso há coisas que podemos discutir para melhorar, na perspectiva de dar possibilidade de mais espaço aos artistas independentes, como você cita. No Brasil, por exemplo, como os artistas terão acesso ao grande público se os meios de comunicação estão todos concentrados em um monopólio nas mãos dos mesmos grupos? É uma questão bem concreta! Se o mesmo grupo detém o monopólio dos meios de comunicação, logo, só tocará nesses meios aquilo que esses grupos julgarem importante. Uma discussão que é fundamental para a arte brasileira é a defesa, incondicional, de que é necessária uma reforma profunda das mídias brasileiras e sua regulamentação. Esse monopólio, da forma que é, é inimigo da arte, principalmente dos artistas independentes.
Recentemente vocês realizaram um projeto com Broto de Flor e lançaram de A Elis, Helena e Maria. Fale um pouco dos projetos que a banda tem.
Esse ano (2019) passou voando. Doideira! Mas em 2019, o que ainda falta de 2019, a gente quer tocar. Estamos querendo rodar todos os lugares possíveis! Já fizemos SP, MG e queremos fazer RJ até o fim do ano. Estamos organizando o início da produção de um clipe, mas dificilmente sai esse ano. Mas a ideia é começar a tirar ele do papel logo, logo. Queremos até o fim do ano fazer VR e, queremos chegar em BH. É um lugar que ainda não tocamos e queremos experimentar!
Vídeos: