EVOCAÇÃO PASTORAL DO MENESTREL
Surges nu, de arrabil, no tempo azul e alto,
quando as grandes palavras parecem coroar-se
de beleza alcançada: vai em meio a caçada:
soltaram-se os falcões e gerifaltos,
que enfiam através sonoras torres
levantadas no ar a sopro de bucinas!
Glorioso no ademã dos teus cantares,
teu corpo evolve
róseos meandros
em volumes brandos, arredondando
as juntas, à sombra
das romãs – e exorta a claridade
dos cimos: ei-lo subindo
além dos gerifaltos!
Por um momento, aborrecendo olhares doces
as peripécias gárrulas da faina, as bem-talhadas
ondulam por teu corpo, e aos tornozelos teus
colando os lábios de amaranto,
suspiram bálbuces.
Logo, porém, sentido em meio às coxas
um úmido pulsar de línguas tesas
precipitam-se quentes, intumescendo
enquanto correm,
à Marcha Triunfal dos Cem Faisões!
Eis que te abates sobre os seios do instrumento,
chorando por extenso a luz que foge ao corpo
e galga, heróica, junto aos clangores da vitória,
as grandes nuvens suseranas e estivais,
as Nuvens – mirante de fanfarras sobre um corpo gaio!
– Décio Pignatari (Rumo a nausicaa/Noigandres 1 – 1952), em “Poesia Pois É Poesia – 1950|2000”. Cotia, SP: Ateliê Editorial; Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2004, p. 67.