Organizando a teimosia não como se arruma o armário, mas como quem expõe a perturbação da ordem, o ruído, o avesso, o fora de lugar, a poeta vai talhando um caminho que vai da casa à rua, do privado ao público, do pessoal ao coletivo, do amor à política. Na dupla chave do familiar-não familiar, Farândola vai criando laços que se entrecruzam em uma dança centenária que conecta a história de uma mulher “com a dança dos maltrapilhos/ a fome e a sede dos saltimbancos/ de tomar as ruas e dançar”. Indo da casa, do familiar, do doméstico, e tomando as ruas, Farândola vai se tecendo como uma aliança, nesse movimento que se desdobra e vai encontrando seus pares, dando as mãos pelo que se reconhecem em suas estranhezas, porque é a condição de estar fora de lugar, fora da ordem, que os une. Ir de mãos dadas (Drummond é um interlocutor importante neste livro) com os que vivem em precarização, os banidos da lei, como os endividados, os camelôs, os mendigos, os sem-teto, estar entre eles, no meio deles, correndo com eles, como lemos em “Estranhos”, é fazer dessa estranheza uma ética e uma política, um modo de estar no mundo, um modo de (não) se sentir em casa.