O humor de Millôr Fernandes

Dono de um repertório que poderia citar Santo Agostinho ou reinventar uma história da mitologia, Millôr Fernandes, carioca do Meiér, foi escritor, jornalista, tradutor e desenhista, sempre pronto a comentar, com fina ironia e originalidade, os assuntos contemporâneos.

Os textos apresentados foram retirados do extinto site Millôr Online, que era mantido na página da UOL. Um dos tesouros da Internet que, recuperado, deixaria uma multidão de leitores mais felizes.

Um de meus mitos favoritos é Tirésias, o sábio, o profeta, o adivinho cego de tantas histórias e peças gregas. Que Tirésias era cego e adivinho todos sabem. Mas a história de como virou ambas as coisas é menos conhecida. Um dia Tirésias ia passando por uma espécie de Pantanal do Olímpio e viu Atenas tomando banho nua. Atenas, indignada, atirou-lhe água em cima, transformando-o em mulher (*) durante sete anos. E, como ele insistisse em olhar, Atenas atirou-lhe água também nos olhos, cegando-o. Mais tarde, arrependida, e não tendo mais o poder de restaurar-lhe a visão, a deusa restaurou-lhe a masculinidade (**), dando-lhe o poder divinatório e a compreensão da linguagem dos pássaros. Magra compensação. Tempos depois, passando em meio aos deuses Juno, Júpiter e ApoIo, que discutiam ardentemente sobre quem obtinha maior gozo numa transa, o homem ou a mulher, Tirésias, que tinha experiência de ambos os sexos, foi chamado a opinar. E não vacilou – declarou que a mulher goza 10 vezes mais. 

Moral: Pelas loucuras que já vi muitas fazerem por tão pouco, Tirésias tem toda razão. 

Millôr 

Clássicos  odisseu_e_tiresias O humor de Millôr Fernandes

Humor, polêmica e provocação

Clássicos  millor-fernandes-escritor-1 O humor de Millôr Fernandes

A liberdade que Millôr tanto prezava em seus trabalhos estendia-se também às convicções pessoais. Autoproclamado “livre-atirador” numa entrevista ao Roda Viva, buscava não se comprometer com qualquer movimento organizado político ou religioso, considerando a ideologia uma “bitola estreita para orientar o pensamento”.  

Defendia o livre pensar justificando que “não existe pensador católico. Não existe pensador marxista. Existe pensador. Preso a nada. Pensa, a todo risco”. O desprendimento a dogmas, conceitos, mitos e sistemas de pensamento não resultava na falta de foco para suas críticas, pelo contrário: o alvo sempre foi o ser humano, o qual considerava “inviável”. 

Millôr se dizia ainda uma pessoa de grande ceticismo, considerando essa disposição de indagar tudo permanentemente um fator primordial na criatividade. Em seus escritos evitava ataques pessoais, lição que tirou da época no Liceu de Artes e Ofícios: “um dia um professor deteve a massa dos alunos que desciam as enormes escadarias e, no meio de todo mundo, advertiu-me para que eu nunca mais zombasse de um colega. ‘As pessoas podem perdoar que você bata a sua carteira mas jamais perdoarão isso.’ Aprendi”. A exceção à regra eram os governantes, jamais poupados da exposição ao ridículo. Sustentava a posição dizendo que “o homem do poder público tem sempre uma tribuna e meios muito maiores para reagir e anular o mal que ocasionalmente você lhe faça”. 

As críticas cáusticas às instituições estabelecidas e às ideologias perenes provocavam por vezes reações inflamadas de seus alvos, como no caso da demissão de O Cruzeiro ou na ocasião em que provocou o movimento feminista numa charge do começo dos anos 70. Ironizando os poderosos e as instituições arcaicas, era acusado de subversivo; criticando os movimentos contemporâneos, como o feminismo, era taxado de reacionário. Minimizava acusações do tipo dizendo que “as pessoas que reivindicam algo dificilmente têm senso de humor para aceitar uma crítica”, justificando os ataques mais insistentes com a opinião de que “o que as pessoas não aceitam são pequenas coisas, o fato de eu nunca ter querido poder, de não ter aparecido na TV Globo, afinal alguém tem que ter recato neste país”. Nesse sentido inclusive costumava dizer ter refreado o pouco que tinha “dessa coisa humana que é aparecer”, rejeitando a popularidade, que considerava vulgar, apesar de declarar gostar da notoriedade e das conveniências sociais trazidas pelo fato de ser conhecido.Segundo o filho Ivan, Millôr jamais se deixou levar pelo chamado culto à celebridade. “Ele disse que sempre gostou de ser notório e não famoso”. 

Fonte: Wilipedia

The Cow Went to the Swamp 
Atualmente 1.000.000.000 de pessoas no mundo falam inglês. 
Este site o ajudará a falar tão mal quanto 900.000.000 de pessoas. 
 
A bolsa ou a vida 
The stock market or the life 
 
A cobra está fumando 
The snake is smoking 
 
A conversa ainda não chegou na privada 
The conversation didn’t arrive in the water closet yet 
 
A leite de pato 
Duck’s milk way 
 
A maré não está pra peixe 
The tide is not for fish 
 
Bacalhau de porta de venda 
Door of grocery’s codfish 
 
Baixar uma portaria 
To put down a room of a doorkeeper 
 
Balançou a roseira 
It shook the rosebush 
 
Bananeira que já deu cacho 
Banana tree which already gave its bunch 
 
Bancou o pato 
He banked the duck 
 
Cabra da peste 
Goat of the plague 
 
Caga regra 
Shitter of rules 
 
Cagando e andando 
Shitting and walking 
 
Cagão 
Big-shitter 
 
Cagou solenemente 
He shitted stately 
 
(Millôr) 

Biografia

Millôr Fernandes (1923-2012) foi um desenhista, humorista, tradutor, escritor e dramaturgo brasileiro. Era um artista com múltiplas funções. Escreveu colunas de humor para as revistas O Cruzeiro e Veja, para o tabloide O Pasquim, e para o Jornal do Brasil. 

Millôr Viola Fernandes nasceu no bairro do Méier, no Rio de Janeiro, no dia 16 de agosto de 1923. Era filho do engenheiro Francisco Fernandes um imigrante espanhol, e de Maria Viola Fernandes. Deveria ter se chamado Milton, mas a caligrafia do tabelião o fez Millôr. 

Começou a trabalhar ainda jovem na redação da revista O Cruzeiro, iniciando precocemente uma trajetória pela imprensa brasileira que deixaria sua marca nos principais veículos de comunicação do país.  

No começo dos anos 40, Millôr começou a assinar a coluna “O Pif-Paf” para a revista “O Cruzeiro”, em parceria com o cartunista Péricles. Continuou assinando com a alcunha, mesmo durante o período áureo na revista, entre 1945 e início dos anos 60. 

Como desenhista, dividiu o primeiro lugar com o americano Saul Steinberg, em um concurso realizado na Exposição Internacional do Museu da Caricatura de Buenos Aires, em 1956. 

No ano seguinte, organizou uma exposição individual com seus desenhos e pinturas no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. 

Em 1963, publicou em O Cruzeiro uma versão da história de Adão e Eva, que despertou a ira religiosa dos leitores e terminou com sua demissão da revista, acusado de fazer matéria “insultuosa às convicções religiosas do povo brasileiro”. 

 Em seus mais de 70 anos de carreira produziu de forma prolífica e diversificada, ganhando fama por suas colunas de humor gráfico em publicações como Veja, O Pasquim e Jornal do Brasil, entre várias outras. Em seus trabalhos costumava valer-se de expedientes como a ironia e a sátira para criticar o poder e as forças dominantes, sendo em consequência confrontado constantemente pela censura. Dono de um estilo considerado singular, era visto como figura desbravadora no panorama cultural brasileiro, como no teatro, onde destacou-se tanto pela autoria quanto pela tradução de um grande número de peças. 

Com a saúde fragilizada após sofrer um acidente vascular cerebral no começo de 2011, morreu em março de 2012, aos 88 anos de idade. 

Além de seu espírito provocador, Millôr tinha uma grande capacidade de criar aforismos e suas ilustrações estavam repletas de humor e criatividade. 

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