Crônica De Rubens Esaki

Rubens Esaki (@akira_esaki) é um escritor de Niterói, RJ.  Sempre gostou de escrever, tendo publicado seu primeiro livro em 2023, aos 18 anos. — “A Valsa de Éris.” Atualmente, está escrevendo uma antologia de contos, e publica algumas crônicas no tempo livre. 

Rena voadora

Quando chega novembro, ao passear pela vizinhança, é difícil olhar para as luzes piscantes, as renas voadoras, e os papais-noéis presentes nos jardins dos condomínios, e não pensar, ao menos uma vez, “Que bonitinho!”. No entanto, quase não me recordo de admirar, pequenino, o presépio, ofuscado pelo duende verde bizarro. O nazareno jaz, inocente, rodeado por José e pela Virgem. O que não é notado por todos, no entanto, é um animal despreocupado, comumente um bezerro ou um burro, a observar o nascimento. Ele não sabe quem é Jesus, tampouco entende o significado da data, mas figura na imagem
como aquele ator do qual ninguém se lembra, mas é necessário para preencher espaço. Quando era moleque, não sabia responder a essa pergunta, mas agora eu sei: se pudesse
ter um desejo para o papai noel, cogitaria (só para tirar um sarro) ser um burrinho gordo imóvel observando Cristo numa imagem. Ser Maria seria um terrível peso, imagine ser o
próprio Jesus! Quanto a José, pai de um menino que não tem sua genética, embora tenha sido gerado pela sua esposa…Bom, dá para ver onde quero chegar. Ser um burro, por outro
lado, seria observar sem entender, comer resto de comida, dormir, e fugir do natal — que é um dos dias mais
assustadores para o indivíduo ocidental.

É simples. Em dezembro, as preliminares natalinas se consubstanciam no dia vinte e cinco, e toda a excitação, arrastada ao longo do mês anterior, acalma-se em meio a um chester, umas uvas-passas, orações de agradecimento ligadas por mãos dadas, e talvez uma canção de parabéns ao menino Jesus feita por uma avó, com direito a Big Big big, hora hora hora, Rá-tim-bum. Come-se à fartura, toma-se um vinho, dá-se um beijinho na tia e ouve-se o primo ateu dizer frases que começam com “Na verdade…”

Já passou de meia-noite, boa noite, durma com Deus. O próximo dia amanhece com o peso de não ser natal nem ano novo, talvez uma culpa vinda do próprio significado simbólico da data. Do vinte seis ao trinta e um, a semana de seis dias ( que carrega o peso de todos os outros trezentos e cinquenta e nove) arrebata as famílias com ressacas desgostosas e exitações agridoces: não é ainda tempo de trabalhar, mas de descansar; não de cumprir, mas de planejar. Em outros aspectos, antes de pular as sete ondinhas na praia de Copacabana, pulamos as ondas do “E se”, “Quando”, “Possivelmente”, “Quem sabe”, “Se Deus quiser”…
Abraçar uma realidade nova, cortar certos laços, formar outros, emagrecer, ler mais, ganhar dinheiro, ser um marido melhor; fazer tudo isso, mas sem abandonar a antiga realidade, colocando o rabo entre as pernas para conhecidos, esquecendo-se de conhecer gente nova, comendo Fast Food todo final de semana, comprando dois livros na Amazon porque achou a capa bonita, levando a vagabundagem contínua, e voltando tarde da noite para vera cônjuge inquieta, descontente com o homem bêbado em sua frente.

Já que um dígito ou dois parecem ditar uma nova esperança, criando uma ponte imaginária enorme entre esse e o outro, vale mais a pena esperar o réveillon: o próximo ano sempre é místico, desde que ele não chegue. Quer que estejamos esperançosos ou deprimidos comas festas, nunca estamos, de coração, totalmente um ou o outro, sempre paira um vago receio, que advém de uma contemplação. Isso atinge o estoico e o hedonista, o ateu e o crente; no momento do ano que parece estar fora do próprio ano, enquadrando-se paralelo ao calendário, eis o puxão de orelha que as pessoas chamam de ansiedade: um lembrete metafísico de que podemos abandonar nossos vícios, mas provavelmente vamos escolher não fazer isso.

Somos diáfanos, podemos um amor familiar, divino, dando carinho não porque convém, mas porque é bom. O ano, a acabar, acaba com nosso orgulho. Podemos dar tapinha nas costas dos amigos, podemos agradecer a Deus por uma nova oportunidade, abrir um champanhe só um pouco caro, desejar feliz ano novo, gritar, berrar, beijar a avó! Tudo isso parece tão lindo, na praia ou em casa, quando contemplamos o rosto de nossos amigos, que sentem os mesmos que nós, e de algum modo conseguimos nos comunicar sem palavras.
Primeiro de janeiro.
Em termos práticos, nada mudou. O Ano-novo foi um ritual de transição que não transitou para lugar algum. Logo, o lembrete metafísico é lembrado como um momento breve de êxtase infantil acionado pelas festas, afinal, “a realidade é muito dura” e “a vida é assim mesmo”. Em duas semanas, o presépio some. O duende também. As ruas da cidade não estão mais decoradas. Os dias parecem, inicialmente, diferentes, mas ainda são os mesmos.

Perder o lembrete é perder o ano, que se afoga, envelhece rápido. E é isso mesmo. Para algumas pessoas, o ano acaba mais cedo. Quando isso acontece, elas vagam numa espécie de limbo, aguardando o próximo interregno, onde terão outra chance de redenção. Ainda bem que temos a conveniência de separar as coisas em horas, dias, semanas, meses…

Em relação a minha afirmação inicial, é claro que eu não gostaria de ser um burrinho, nem ninguém no presépio, sendo realista.
Uma rena voadora seria mais divertido

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Sinopse

Em uma tarde decisiva, Fausto, um adolescente que acabou de terminar o ensino médio, toma a ousada decisão de se aventurar pela Dolores Mara, uma rua carioca conhecida pela vida noturna agitada e perigosa. Lá, ele cruza caminhos com o enigmático Nicolas, um atendente de bar, cuja personalidade excêntrica desperta seu interesse. No entanto, ao longo do aprofundamento do relacionamento entre os dois, Fausto descobre que Nicolas guarda segredos obscuros.

À medida que a trama se desenrola, o adolescente se vê diante de decisões cruciais que testam sua integridade moral, vivendo em um intenso campo de batalha interno, onde é desafiado a enfrentar as consequências de suas escolhas e a enfrentar as essências de sua própria consciência.

Nessa narrativa envolvente, a linha tênue entre o bem e o mal é explorada meticulosamente, levando o leitor a questionar suas próprias noções de moralidade, revelando que as escolhas que fazemos, especialmente quando confrontados com circunstâncias desafiadoras, podem moldar o nosso destino e impactar aqueles ao nosso redor.