Publicidade

A Carta É Pilha do Baralhinho do Momento

A Carta É Pilha do Baralhinho do Momento

O que é o Baralhinho do Momento? As cartas do Baralhinho do Momento têm mensagens diretas de aplicação instantânea, que podem ser usadas em qualquer situação e ambiente, alterando sensivelmente o humor dos envolvidos. Conheça o texto e o divertido “jogo” de Caito Mainier.

É Pilha

Você chega da boate cansado. Cansado das luzes estroboscópicas, do som alto, das mulheres bonitas, dos vetos completos e das danças corretas. Nada o ajudou em nada e mais uma vez sozinho, às 4:15 da manhã você está. 

Seus amigos seguem pra casa, você entra no seu prédio, cumprimenta a portaria, entra no elevador social, aperta o cinco, percebe que o elevador social está desligado, sai do elevador social, entra no elevador de serviço, aperta o 5 e sobe junto com o conjunto. Badúúúúúúúú…. 

O elevador chega e a cortina abre. Cansaço forte, sua cama vai ser demais. Solidão, pra quem conhece, tem suas vantagens. 

Mas quando você sai no corredor e pisa no chão, você sente mais do que chão, você sente água. Olha pra baixo, pisa de novo, splatsplat, é água mesmo, maluco. Que porra é essa, você xinga em pensamento de dúvida e enquanto caminha pro seu apartamento, você percebe que a água o persegue. E ao dobrar a mini-esquina do corredor, realiza, na surpresa, que a água que desce, e desce forte é sua! Está saindo do seu apartamento! 

É pilha! 

Você já adrenaliza o corpo, busca a chave no frenesi, enquanto a água jorra gostoso por baixo da porta da cozinha da sua casa. Você abre a porta na loucura e a água acumulada lambe a sua canela esvaziando a cozinha. Parece que uma piscina Tone rasgou na tua frente. Mas não é isso e você sabe. Você não tem uma piscina Tone, a alegria da garotada. E a realidade do momento não é de alegria. 

E há dois tipos de problema neste mundo, minha gente: o problema tipo meu, e o problema tipo seu. E esse problema é tipo seu! 

E sendo seu, você vai seguindo o fluxo, como aquelas expedições do globo repórter, em busca da nascente do rio 503 bloco 2. Você vai pelo barulho, passa por você um saco de bisnaguinha seven boys e você realiza que a situação é dramática. Você alcança a área de serviço se agarrando nas coisas e encontra a nascente do rio. 

E a nascente do rio é seu pai, de cuecas, bêbado, tentando com o dedo indicador conter, quase que moralmente, porque não está fazendo a mínima diferença, uma enxurrada de água violenta que brota da parede sem parar, no lugar que até agora pouco era o tanque de lavar roupa! 

É pilha! 

E, amigo, a água que brota da parede, brota num volume, numa potência, que faz a caixa d’água do prédio borbulhar que nem filtro de galão. BablugBablugBablug!!! 

É pilha! É, é sério. 
 
Teu pai, de dentro do chafariz em que se transformou a sua área de serviço, te reconhece e dá a notícia que você já sabe. 
 
– Filhinho… deu merda. 
 
Porra, claro que deu merda! 
 
– Filhinho… bota o dedo aqui que teu pai vai resolver. Segura aqui essa peteca. 
 
Teu pai tira o dedo do buraco e sai um jato tão forte que teu pai patina surf e cuca o tanque. E cuca forte! Você ajuda, os dois caem, é água pra cacete, teu pai levanta, você afoga, teu pai cai, você levanta e vira briga de palhaço a área de serviço. Meia hora de bobeira, abrindo espaguetti e você e teu pai conseguem levantar juntos, ao mesmo tempo e teu pai sai saindo, meio patinando, meio se apoiando, meio não entendendo porra nenhuma do que está acontecendo. 
 
Você volta pro buraco mete o dedo, tentando fazer o melhor, mas é impossivel. Água é água e a água escapa por tudo quanto é lado. E você que estava cansando, pensando só na sua cama, agora está de pé matando água nos peitos, revezando de dedo no buraco, arriscando a saúde no frio e vendo o tempo passar nos litros e litros de água que se perdem na loucura. 

Depois de meia hora, com a pele enrrugada, o dedo indicador azul, o médio paralisado, a camisa transparente e o pulmão assoviando você se pergunta: porra, cadê papai?! 
 
Na busca pela verdade, você abandona o posto, o jato engrossa, a caixa d’água babluga e você mete pela cozinha. É água. Você invade a sala, é água. Rompe pelo corredor, é água. Passa pelo banheiro, é sua mãe sentada não entendendo nada. Você passa pelo escritório, é água. E quando você abre a porta do quarto do seu pai, vem o choque, o verdadeiro choque térmico: 
 
Teu pai está deitado na cama, de cuecas, todo encharcado, dormindo. Dormindo de roncar. 
 
Um grito ecoa forte, muito forte pelo edifício Eugênio de Alencar: 
 
É a carta É Pilha fazendo BLAU!!!!!! 
 
As luzes dos apartamentos se acendem, pessoas aparecem nas janelas, teu pai levanta só a cabeça e no silêncio depois da corneta, todos ouvem juntos, intrigados, um som mais do que misterioso: 
 
BABLUG! 

Caito Mainier 
Do genial site ANTIPROPAGANDA

Sobre o autor

Carlos Eduardo Lessa Mainier, também conhecido como Caito Mainier (Niterói, 26 de outubro de 1977), é um escritor e humorista brasileiro. 

É roteirista e ocasionalmente ator dos programas Larica Total, Lady Night, Irmão do Jorel e O Último Programa do Mundo, no qual interpretou pela primeira vez o personagem Rogerinho do Ingá. Divide com Daniel Furlan a apresentação da websérie Falha de Cobertura. produzida pela TV Quase. Pela mesma produtora, é acompanhado por Furlan, além de Raul Chequer e Leandro Ramos, no Choque de Cultura, programa satírico à crítica de cinema 

Series Navigation<< A MULHER DA BOCETA FOSFORESCENTE por Tomás CreusO humor de Millôr Fernandes >>
Publicidade
Publicidade