- A poesia de Amélia Dalomba
- Ernesto Moamba, o Filho da África
- Coleção História Geral da África, produzida pela UNESCO.
- Noémia de Sousa: “Mãe dos Poetas Moçambicanos”
- Site disponibiliza textos de pensadores e pensadoras africanas em português
- Memórias de um momento presente
- Há trinta e cinco anos despertando consciências: Museu Afro-brasileiro da UFBA
- Museu Afro Brasil: memória, história e arte
- Poemas de Thainicy Delgado
- Poemas de Armando Maria
Ernesto Moamba, o Filho da África
Apresentamos a poesia de Ernesto Moamba, um fado triste, uma canção sobre o que se põe a frente dos olhos e não se pode negar. O destino imaginado para as palavras são os ouvidos da Mãe África, de quem o poeta se apresenta como Filho. A essa conversa, um convite para esmiuçar o presente, os convidamos.
SENTENÇA
[À todas mulheres do mundo]
Minha mãe
Sou terra seca,
Bebendo das aguas dos rios
Que defecas dos teus olhos feridos…
Mãezinha.
[.]
Minha mãe
Sobre o meu corpo
Tua gente discorreu minas de ferro
Como se eu fosse a própria terra
molhada e estuprada de pedras
Deitada e entulhada de areia batida
Que estas mãos incansaveis,
gemeram de orgasmo tentando construir
De pedra em pedra transpirando oceanos sangue.
SENTENÇA NEGRA
( Protesto em momentos de pandemia)
Mãe
Se quiserdes, prolonga mais a quarentena
Manda novamente encerrar as empresas, as lojas e os comércios que sobraram
Proibe o movimento e uso de dinheiro ou crie mais um exército de vírus
Porque lá na terra do negro
Na minha África esquecida
Minha gente não morre de fome
Muito menos de cede
A comida é o que tem demais
Nas ruas meu povo até joga para os cães
Que famintos vandiam pelas cidades
Lá não existe pobre
A riqueza é o que tem demais
Minha gente não sai as ruas
Para mendigar aos ricos e colher os restos
Todo mundo é honesto
E leva a vida de Minístro
[…]
Mãe
Se o meu tempo chegar
E a Pandemia quiser me torturar
Que não use a força nem violência
Muito menos os vírus porque não me darão efeito
Mas sim, me torture com as palavras, com a poesia ou serenatas
Porque sou um Escritor resistente
Filho legítimo da mãe negra
Que já resisti da escravidão, da fome e da cede.
ENVERGADURA DA COVID-19
Minha Mãe,
A dor é profunda mas ainda não é o fim
Da tua gente esquecida, nobre e humilde
Ainda que não estejam nas cidades ou dentro desta nação
A estúpida pandemia ainda vai lhes infectar
Como se não as conhecesse de nenhum lugar
Depois de tudo, a covid vai matar
E quando mais ninguém restar
Como rei ficará com todo poder
Usufluirá de tudo até da sua mulher
Quão linda, trabalhadora e doce como ela é,
Os vírus a usará na prostituição
Somente para te envergonhar entre as grandes nações
E os homens, minha Mãe
Perderão tudo que têm de valor
E não serão mais vistos como heróis
E Depois disso a humanidade não será a mesma
As pessoas tombarão contra si,
As avenidas, as ruas tornar-se-ão em cemitérios
E o mundo transformar-se-á em inferno
E nas empresas de grande porte
Os funcionários trabalharão sem salários
E os outros despejados sem motivos
E nas rias a produção escassa
E no fim todos morrerão de fome
Enquanto os dentetores do poder
Acumularão sua enconomia
Com a produção e venda de alcool, máscaras e clorofinas
Como se fossemos suas vítímas
Mas mesmo assim, ainda não será o fim.
: […]
À todas crianças da minha África Esquecida
Mamãe, já não vagueio
Entre linha férrea do comboio
Mas sim,
Entre terras de aboio
Onde adormecem as peugadas do colono.
JULGAMENTO
( À minha África Esquecida )
No estômago da minha mãe
Falta-me tudo, menos nada…
Os rolos e embrulhos de tripas, o canal digestivo,
E as veias…Para passagem e drenagem de sangue
Para dar vida ao meu corpo covarde
Enlatado de fome e sede.
[…]
(Aos escribas do Sec.XXI)
Para te tornar grande Poeta ou Poetisa, importa vomitar tudo que reside dentro do seu coração,
Seja sangue ou próprio pulmão
[…]
( In Memória das vítimas de Ciclone)
Vou-me pelas ruas.
de estomago vazio e crua
Todo triste e amarrotado
Sedento e soterrado de lama
Colher restos de tristeza
abandonados nas malditas,
da minha preciosa cidade.
Mãe!
Na casa do meu Pai,
Falta-me tudo, menos nada
Falta-me o milho e farinha
O solo, a água, as enxadas e charuas,
Menos a carne e sangue
Para regar-me de tristeza e luto
Sim,
Falta-me a vóz, a cor,
E o escudo
Para libertar-te das algemas
Minha África esquecida.
Ernesto Moamba © Todos os direitos reservados
Ernesto Moamba, conhecido também como Filho da África, nasceu em 04/08/1994, em Maputo, Moçambique, terra de Noémia de Sousa.
Representante da nova poesia africana, a temática da sua escrita é marcada pela dor, desespero e o sofrer da sua Mãe África esquecida num verdadeiro cântico de lamento, uma ode a África ancestral.
Membro fundador da Academia Mundial de Cultura e Literatura, ocupa a cadeira 21, cujo patrono é o brasileiro Cruz e Souza. Publicou, em 2016, o livro de poemas intitulado “Liberta-te Mãe África”, pela Editora do Carmo.
Representa em Moçambique, a Fundação Noemia Bonelli, ocupando o cargo de Curador responsavel pela Folclore Luso-Africana.
Participa de varias Antologias Nacionais e Internacionais, assim como Revistas culturais.
Actualmente organizou a Antologia Brasil-Moçambique, em parceria com a Universidade Estadual de Piaíu, UESPI-NEPA.
Ernesto Antônio Moamba (Ernesto Moamba) foi finalista do Premio Segundo Varal Literário da Camara Municipal de Divinopolitana de Letras-Minas Gerais, Género- Poesia Internacional, 1° Lugar. – Lança e Publica pela Editora do Carmo( Brasília), livro de Poesia intitulado “Liberta-te Mãe África”. Vence o 3° Lugar, no IV Concurso Internacional de Prosa- Prêmio Machado de Assis 2017, organizado pela Confraria Cultural Brasil-Portugal (CCBP). 2018- Lança e Publica Pela Editora Folheando(Pará-Br), o Livro Infanto Juvenil intitulado” O Coelho Fugitivo entre a Esperteza e o Medo)
É membro do Circulo dos Escritores Moçambicanos na Diáspora-Sede em Portugal