- A poesia de Amélia Dalomba
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- Coleção História Geral da África, produzida pela UNESCO.
- Noémia de Sousa: “Mãe dos Poetas Moçambicanos”
- Site disponibiliza textos de pensadores e pensadoras africanas em português
- Memórias de um momento presente
- Há trinta e cinco anos despertando consciências: Museu Afro-brasileiro da UFBA
- Museu Afro Brasil: memória, história e arte
- Poemas de Thainicy Delgado
- Poemas de Armando Maria
TERRA PARA ROSE
O documentário retrata as origens do Movimento Sem Terra, à época da Constituição de 1988.
Narrado por Lucélia Santos e José Wilker, “Terra para Rose” mostra a luta do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) pela reforma agrária durante o período de redemocratização do país nos anos do governo do presidente José Sarney, primeiro presidente civil após a eleição indireta que elegeu Tancredo Neves, morto antes mesmo de sua posse.
Eram anos em que o clamor pela reforma agrária retornara ao país juntamente com vários de seus defensores e entusiastas antes exilados.
Os cães de guarda da ditadura, personificados pela União Democrática Ruralista e pela Sociedade Brasileira de Defesa da “Tradição, Família e Propriedade”, trabalharam para retardar os avanços da constituinte sobre o tema nos anos de 87 e sabotar os esforços prévios do próprio regime militar para amenizar a crise no campo.
A história gira em torno da ocupação da fazenda Anoni no Rio Grande do Sul, um latifúndio improdutivo há 14 anos e em processo de desapropriação na justiça.
Esta foi a primeira ocupação realizada pelo MST, movimento que havia sido fundado pouco tempo antes deste episódio.
A história de Rose, a mulher como protagonista
Rose era uma mulher, entre tantas outras, a lutar por um pedaço de terra para sua subsistência e de sua família.
A escolha de Rose para protagonizar o documentário é especialmente simbólica: ela deu à luz, em 1 de novembro de 1985, à primeira criança nascida no acampamento do MST, Marcos Tiaraju.
O documentário foi montado a partir da reunião de depoimentos e entrevistas dos integrantes do movimento e dá foco especial às mulheres que o compõem. Vemos uma versão da luta pela terra que não segue a cartilha do que é ou foi veiculado na grande mídia brasileira. Os grandes grupos de comunicação, ainda em 2019, tendem a criminalizar o movimento do MST, classificando suas ocupações de áreas improdutivas como “invasões” e “baderna”.
O documentário foi montado a partir da reunião de depoimentos e entrevistas dos integrantes do movimento e dá foco especial às mulheres que o compõem. Vemos uma versão da luta pela terra que não segue a cartilha do que é ou foi veiculado na grande mídia brasileira. Os grandes grupos de comunicação, ainda em 2019, tendem a criminalizar o movimento do MST, classificando suas ocupações de áreas improdutivas como “invasões” e “baderna”.

Lucélia Santos, durante a narração, fornece dados relativos à questão agrária. Evidenciam-se as desigualdades relativas à produção agropecuária no Brasil e são apresentadas imagens de arquivos, vídeos de reportagens televisivas com os desdobramentos das declarações do presidente José Sarney e parlamentares como Mario Covas.
Rose nos é apresentada como uma mulher determinada e engajada. Ao ser questionada sobre a opinião do marido diz: “Ele não queria que eu fosse… mas eu disse eu vou”. Essa maneira de retratar e dar voz às mulheres atribui ao filme um sentindo político que valoriza a participação feminina nas lutas sociais.
Um dos pontos altos é a mostra da fala tranquila e firme de Rose em contraposição a fala premeditada e vacilante do “proprietário rural”, Bolívar Annoni. Isto coloca os relatos em perspectiva e evidencia a articulação de Rose frente ao atrapalhado Bolívar, que chega a repetir a cantilena ventilada durante o regime ditatorial de “ameaça da influência comunista” e “perigoso clero”.
Mas, após tomarmos conhecimento da trajetória desses trabalhadores na luta por Reforma Agrária, vivenciamos a tristeza: Rose morre atropelada em condições suspeitas. Provavelmente mais um dos assassinatos entre tantos, nos mais de 2.000 focos de conflito por terra no Brasil à época.
Nos instantes finais, associados a Marcos, a esperança ganha a cena: Rose segurando seu filho diz: “Espero que quando ele esteja grande, tudo isso não seja em vão, que tenha futuro melhor”.
Documentário de Tetê Moraes
Como todas as outras mulheres das mil famílias que invadiram a Fazenda Anoni, no Rio Grande do Sul, em 1985, Rose aprendeu a compartilhar seu destino com a mesma força com que sonhava
Terra para Rose
Assim como “Cabra Marcado para Morrer”, de Eduardo Coutinho, “Terra para Rose” de Tetê Moraes realiza um desnudamento da luta pela reforma agrária utilizando a perspectiva feminina.
Infelizmente, ainda veríamos Eldorado dos Carajás e uma UDR impassível nos anos que se seguiram. O filme contribui para explicação do fracasso no avanço da questão agrária quando da elaboração da Constituição Cidadã e porque persistem tanto a marginalização quanto o ataque midiático ao MST.
Talvez hoje seja preciso mais um filme com a esperança de que a verdade revelada aos sentidos possa levar a solidariedade, o respeito, a fome de justiça e o companheirismo para dentro dos corações do povo, dos que escolhem os homens que deveriam resolver os problemas de milhões.