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TERRA PARA ROSE
O documentário retrata as origens do Movimento Sem Terra, à época da Constituição de 1988.
Narrado por Lucélia Santos e José Wilker, “Terra para Rose” mostra a luta do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) pela reforma agrária durante o período de redemocratização do país nos anos do governo do presidente José Sarney, primeiro presidente civil após a eleição indireta que elegeu Tancredo Neves, morto antes mesmo de sua posse.
Eram anos em que o clamor pela reforma agrária retornara ao país juntamente com vários de seus defensores e entusiastas antes exilados.
Os cães de guarda da ditadura, personificados pela União Democrática Ruralista e pela Sociedade Brasileira de Defesa da “Tradição, Família e Propriedade”, trabalharam para retardar os avanços da constituinte sobre o tema nos anos de 87 e sabotar os esforços prévios do próprio regime militar para amenizar a crise no campo.
A história gira em torno da ocupação da fazenda Anoni no Rio Grande do Sul, um latifúndio improdutivo há 14 anos e em processo de desapropriação na justiça.
Esta foi a primeira ocupação realizada pelo MST, movimento que havia sido fundado pouco tempo antes deste episódio.
A história de Rose, a mulher como protagonista
Rose era uma mulher, entre tantas outras, a lutar por um pedaço de terra para sua subsistência e de sua família.
A escolha de Rose para protagonizar o documentário é especialmente simbólica: ela deu à luz, em 1 de novembro de 1985, à primeira criança nascida no acampamento do MST, Marcos Tiaraju.
O documentário foi montado a partir da reunião de depoimentos e entrevistas dos integrantes do movimento e dá foco especial às mulheres que o compõem. Vemos uma versão da luta pela terra que não segue a cartilha do que é ou foi veiculado na grande mídia brasileira. Os grandes grupos de comunicação, ainda em 2019, tendem a criminalizar o movimento do MST, classificando suas ocupações de áreas improdutivas como “invasões” e “baderna”.
O documentário foi montado a partir da reunião de depoimentos e entrevistas dos integrantes do movimento e dá foco especial às mulheres que o compõem. Vemos uma versão da luta pela terra que não segue a cartilha do que é ou foi veiculado na grande mídia brasileira. Os grandes grupos de comunicação, ainda em 2019, tendem a criminalizar o movimento do MST, classificando suas ocupações de áreas improdutivas como “invasões” e “baderna”.
Lucélia Santos, durante a narração, fornece dados relativos à questão agrária. Evidenciam-se as desigualdades relativas à produção agropecuária no Brasil e são apresentadas imagens de arquivos, vídeos de reportagens televisivas com os desdobramentos das declarações do presidente José Sarney e parlamentares como Mario Covas.
Rose nos é apresentada como uma mulher determinada e engajada. Ao ser questionada sobre a opinião do marido diz: “Ele não queria que eu fosse… mas eu disse eu vou”. Essa maneira de retratar e dar voz às mulheres atribui ao filme um sentindo político que valoriza a participação feminina nas lutas sociais.
Um dos pontos altos é a mostra da fala tranquila e firme de Rose em contraposição a fala premeditada e vacilante do “proprietário rural”, Bolívar Annoni. Isto coloca os relatos em perspectiva e evidencia a articulação de Rose frente ao atrapalhado Bolívar, que chega a repetir a cantilena ventilada durante o regime ditatorial de “ameaça da influência comunista” e “perigoso clero”.
Mas, após tomarmos conhecimento da trajetória desses trabalhadores na luta por Reforma Agrária, vivenciamos a tristeza: Rose morre atropelada em condições suspeitas. Provavelmente mais um dos assassinatos entre tantos, nos mais de 2.000 focos de conflito por terra no Brasil à época.
Nos instantes finais, associados a Marcos, a esperança ganha a cena: Rose segurando seu filho diz: “Espero que quando ele esteja grande, tudo isso não seja em vão, que tenha futuro melhor”.
Documentário de Tetê Moraes
Como todas as outras mulheres das mil famílias que invadiram a Fazenda Anoni, no Rio Grande do Sul, em 1985, Rose aprendeu a compartilhar seu destino com a mesma força com que sonhava
Assim como “Cabra Marcado para Morrer”, de Eduardo Coutinho, “Terra para Rose” de Tetê Moraes realiza um desnudamento da luta pela reforma agrária utilizando a perspectiva feminina.
Infelizmente, ainda veríamos Eldorado dos Carajás e uma UDR impassível nos anos que se seguiram. O filme contribui para explicação do fracasso no avanço da questão agrária quando da elaboração da Constituição Cidadã e porque persistem tanto a marginalização quanto o ataque midiático ao MST.
Talvez hoje seja preciso mais um filme com a esperança de que a verdade revelada aos sentidos possa levar a solidariedade, o respeito, a fome de justiça e o companheirismo para dentro dos corações do povo, dos que escolhem os homens que deveriam resolver os problemas de milhões.
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